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Asilo João Kuhl Filho abre portas para quem quer dedicar um tempo livre aos idosos - 19/05/2008 às 19h43


Domingo à tarde. Era um dia bonito, ensolarado. Na rua Capitão Flamínio Ferreira, o silêncio era quebrado apenas pelos carros que estacionavam aos poucos em frente ao número 489. Ali se localiza o asilo João Kuhl Filho. Com 3.170 m² de área construída, funciona há 90 anos em Limeira. É o maior e mais conhecido da cidade.Na entrada principal, árvores formam uma sombra acolhedora. Uma placa apoiada em dois pilares reforçados identifica o lugar. Na portaria, irmã Luzia, uma simpática freira, acolhia os visitantes. Estatura mediana, morena e gordinha, ela trajava um hábito branco e preto. Atenciosa com os visitantes, logo nos levou para conhecer o interior do asilo.Conhecer os idosos internados naquele local e saber um pouquinho de suas histórias de vida parecia uma idéia empolgante, apesar do tempo escasso para as visitas: domingo, das duas às quatro da tarde.Na passagem pela estreita porta de entrada, avistei um corredor largo que dava acesso à porta do refeitório. A cor laranja predomina naquele lugar. As paredes e até o piso apresentam essa coloração forte. Os jardins estavam limpos e a grama, bem aparada. Flores coloridas davam alegria e harmonia ao pátio.Atravessei o corredor e entrei no refeitório. Três funcionárias limpavam as mesas compridas de madeira e as cadeiras brancas de plástico. Outras duas varriam o chão de piso frio, conversavam e davam risadas. Continuei a caminhar. Estava perto dos dormitórios masculinos quando encontrei uma pequena sala de descanso. Nas paredes, o tom azul claro proporcionava uma iluminação agradável. Sentados, cinco idosos assistiam atentamente o Programa do Faustão, enquanto um outro, deficiente visual, apenas ouvia o barulho da TV.
O exemplo de "seu Peru"Antonio Pantoja, mais conhecido por Seu Peru, 73 anos, estava sentado numa poltrona marrom. Elegante, vestia camisa branca e calça social. Caminhei em sua direção e rapidamente iniciei um bate-papo. Homem forte e lúcido, Pantoja tem cegueira completa, causada por glaucoma. Há dois anos convivendo com esse problema, ele leva a vida com coragem e animação.Viúvo há um ano e meio, sem filhos e nem parentes próximos, Pantoja vivia sozinho em Limeira. Após a morte da mulher, decidiu ir para o asilo. Seu bom humor contagiou os 42 funcionários, entre equipe técnica, de apoio e administração. Seus amigos, 30 homens e 40 mulheres, gostam de suas brincadeiras. Seu Peru sorri e diz:- Adoro aqui. É bom!O apelido engraçado se deve ao hábito que Pantoja tem de imitar os sons emitidos pelo animal. O costume vem da infância, que passou no sítio da avó, em Araras. Na despedida, comenta:- Sou feliz porque Deus está do meu lado.Faltavam dez minutos para o término das visitas quando acelerei os passos em direção à horta do asilo. Algumas idosas que podiam caminhar normalmente acompanharam o rápido percurso nos corredores estreitos. Toda essa pressa era contra o relógio, que rodava sem piedade.A área externa estava linda, tomada por flores, pinheiros, verduras e legumes. Parecia até um grande arco-íris, farta de alimentos sem agrotóxicos. As flores são plantadas pelos próprios idosos.Quatro horas. O horário de visitas havia acabado. Abracei e beijei os velhinhos que estavam ao alcance. Bons velhinhos. Atenciosos com todos. Retornei pelo mesmo caminho que havia feito antes. Passei pela recepção. A freira Luzia se despedia dos visitantes e voluntários. Caminhei até a rua e parei em frente ao asilo, na calçada de pedras acinzentadas. Comovida com tudo o que havia visto naquele lugar, senti uma grande sensação de solidariedade.
* Estudante do 7º semestre de Jornalismo e colaboradora da Agência Nova