Categoria: Jornal "OUTRO LADO DA MOEDA"

TERCEIRA IDADE - Cresce o serviço de pousadas e hotéis especializados no acompanhamento aos idosos.


Idosos longe da solidão


24/02/2008 - Tribuna do Norte Isaac Ribeiro - Repórter
À velhice é atribuída o bônus da sabedoria e da experiência sobre a vida. Para muitos, é nessa fase de nossas vidas que voltamos a ser criança
Há um calo moral que ainda atormenta a cabeça de muita gente. O que fazer com nossos pais quando eles envelhecem e não temos condições de cuidar deles? Para amenizar ou até mesmo solucionar esse problema, existem hotéis e pousadas voltadas exclusivamente para o tratamento e apoio ao idoso, dispondo de médicos e profissionais treinados com esse objetivo.A propietária do viver Hotelaria Geriátrica reconhece que cuidar de idoso não é tarefa das mais fáceis e não culpa a família por deixar seus parentes em hotéis ou pousadas geriátricas. “Acho que não é por não gostar dos pais que se toma uma atitude dessas. Quando a pessoa chega a uma idade avançada e a família é muito ocupada, a convivência se torna muito difícil pois idoso é igual criança. Falo por mim mesma, pois meus filhos cresceram e têm que cumprir seus compromissos. E se eu não tivesse meu trabalho, estaria só", diz prof.ª Tânia.Ela acredita que se a pessoa se aposenta e não passa a integrar um programa de terapia ocupacional, como o oferecido pela Fati (ligada à FAL), vai perdendo o contato com antigas amizades e termina tendo que encarar a solidão. Tânia Leiros acredita que num hotel geriátrico o idoso encontra pessoas com seus mesmos interesses e problemas, além de dividir momentos felizes em festas, jogos e outras atividades. Ela também comenta sobre o espírito de solidariedade que reina entre os hóspedes, cada um ajudando o outro em seus problemas cotidianos. “Mas quando ele vive com a família, acaba se tornando babá dos netos ou assume a administração de uma casa que não é sua. Sei que esse tipo de hotel é para os mais favorecidos, mas no dia em que eu parar, não quero morar com meus filhos", confessa.Isolamento e depressão. “Há idosos que são muito queridos e bem tratados pelos seus familiares, mas outros são abandonados, largados nos asilos e abrigos", diz irmã Ivanir, considerando que muitas vezes a família não tem condições de cuidar de seus anciões por falta de tempo ou outras condições desfavoráveis. Mas seja lá qual for a alegação da família, quem sofre mesmo com a rejeição é o idoso. “Quando ele está no asilo, não está no mundo que ele criou e construiu. O isolamento é grande. Já tivemos vários casos de depressão aqui", comenta a diretora do Juvino Barreto. . E a família realmente não se preocupa muito com a qualidade de vida do idoso. Quer mesmo é se livrar dele", analisa Daniela. Já Sônia Tinoco, do Solar Residencial Geriátrico, acredita que o Estatuto do Idoso e a criação de promotorias ajudaram bastante a diminuir o preconceito. “Trabalhei em creche e vejo o mesmo tipo de preconceito com residenciais geriátricos. Mas acredito que daqui a pouco tempo isso vai acabar. Sabemos que criança e idoso são muito parecidos."Se depender de dona Beatriz Gurgel, 83 anos, não há razão para preconceito com esses estabelecimentos. “Gosto de ficar aqui. Gosto de tudo. É o local em que sinto mais confiança de estar, pois me tratam muito bem, graças a Deus", diz ela, tendo o elogio corroborado por dona Maria Melo, 84. “O que eu gosto mais é a convivência com as amigas."Para o economista Almir Melo, 69, que tem sua mãe hospedada no Solar há dois anos, esse tipo de serviço é muito importante para as famílias que não têm condições “funcionais" de cuidar de seus idosos. “Ai de nós se não fosse isso. Minhas irmãs são mais velhas do que eu e os netos não têm paciência. Daqui a pouco somos nós que estaremos aqui."Perguntada pelo filho como ela estava, dona Maria José Ferreira, 91 anos, mãe de Almir, responde de pronto: “Vou levando a vida..."

Fonte: Tribuna do Norte
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