DOENÇA SEM IDADE: AIDS ATINGE CADA VEZ MAIS BRASILEIROS IDOSOS
R. descobriu que tinha o vírus HIV aos 50 anos. Ela foi infectada pelo namorado que conheceu em um dos bailes de terceira idade que começou a freqüentar depois de ficar viúva. Hoje tem 72 anos, mantém segredo sobre a questão e faz parte de um número cada vez maior de idosos no Brasil contaminados pelo vírus que causa a AIDS.
"Quanto menos souberem a meu respeito melhor. Tenho dois filhos e dois netos, mas só um sabe que sou portadora do HIV. Tudo começou quando o pai deles morreu. Eu era mais ou menos jovem, tinha 50 anos, e resolvi aproveitar a vida", conta a aposentada.
Doente há 22 anos, R. já passou por várias fases: do pessimismo à resignação, e da resignação a uma espécie de otimismo preventivo. "Com o tempo, comecei a pensar: pelo menos vou manter meu otimismo. Vou morrer no mesmo dia que eu morreria se estivesse pessimista! Vamos ser otimistas, então", afirma.
Índice sobre a história de R. é apenas uma das mais de 4 mil histórias de brasileiros com mais de 50 anos que portam o vírus HIV. De acordo com o "Boletim Epidemiológico AIDS/DST" divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de pessoas com 50 anos ou mais infectadas subiu 171% de 1995 a 2005.
Em dez anos, o número de casos registrados passou de 1.528 para 4.153. Portadoras de HIV acima de 60 anos, como R., eram 100 em 95; em 2005 passaram a 397.
Os números refletem duas realidades completamente diferentes. De um lado, a evolução no controle do vírus, que ampliou consideravelmente a expectativa de vida de pacientes com tratamento adequado. Do outro, o aumento do número de novos casos, questão que preocupa os infectologistas do país.
"Eles (da terceira idade) acham que são incólumes e não correm o risco de adquirir o HIV. Todas as campanhas feitas são voltadas para um público jovem. Nunca se colocou um idoso falando de cuidado com o sexo, de camisinha", analisa o infectologista Jean Carlo Gorinchteyn, que acompanha casos desse tipo no dois hospitais paulistanos em que atende. A paciente mais velha dele tem 91 anos.
Há 12 anos no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência no combate à Aids, Gorinchteyn aponta que a vida sexual na terceira idade envolve riscos semelhantes aos de outras fases da vida. A difusão dos remédios para disfunção erétil nos últimos anos tornou esses perigos ainda mais agudos.
"Homens que viveram uma época em que não havia camisinha voltaram a ter relações, mas nem pensam em usar camisinha", lamenta, lembrando que nem todos os homens tomam remédios para se relacionar com as esposas.
Rupturas descobertas da doença em pacientes acima de 50 anos tem impactos que ultrapassam o físico.
"Quando o diagnóstico sai, os laços de família sempre acabam comprometidos. Ou há rupturas ou há aproximações. O diagnóstico pode afastar as pessoas, principalmente quando já existem elos frouxos. Muitas vezes o paciente acaba sendo abandonado. Em outras famílias, os avós são cuidados pelos próprios netos".
A reação de esposas traídas que se descobrem infectadas vai da raiva à compaixão. "Normalmente, as mulheres são muito mais corteses", diz o médico, lembrando de um caso em que a mulher ameaçava matar o marido e, ao mesmo tempo, perguntava se, por causa do vírus, ele corria o risco de morrer.
"É uma situação bastante difícil. Acompanhei um casal que estava junto há 40 anos e ela descobriu que o marido era soro-positivo quando ele foi internado com pneumonia. Não é só o diagnóstico de uma doença. De repente, a pessoa percebe que está dormindo com um desconhecido. Um diagnóstico como esse revela hábitos que são desconhecidos", afirma.
Quando recebem apoio de amigos e parentes, os pacientes da terceira idade tendem a seguir com mais rigor o tratamento do que os mais jovens. "Eles usam a medicação com muito mais rigor, mais zelo. O idoso sabe o horário, sabe como tomar o remédio", completa o infectologista.
A aposentada R. parece comprovar a tese. "Tenho feito o tratamento direitinho. Não sou doente, só tenho HIV", assegura.
R. descobriu que tinha o vírus HIV aos 50 anos. Ela foi infectada pelo namorado que conheceu em um dos bailes de terceira idade que começou a freqüentar depois de ficar viúva. Hoje tem 72 anos, mantém segredo sobre a questão e faz parte de um número cada vez maior de idosos no Brasil contaminados pelo vírus que causa a AIDS.
"Quanto menos souberem a meu respeito melhor. Tenho dois filhos e dois netos, mas só um sabe que sou portadora do HIV. Tudo começou quando o pai deles morreu. Eu era mais ou menos jovem, tinha 50 anos, e resolvi aproveitar a vida", conta a aposentada.
Doente há 22 anos, R. já passou por várias fases: do pessimismo à resignação, e da resignação a uma espécie de otimismo preventivo. "Com o tempo, comecei a pensar: pelo menos vou manter meu otimismo. Vou morrer no mesmo dia que eu morreria se estivesse pessimista! Vamos ser otimistas, então", afirma.
Índice sobre a história de R. é apenas uma das mais de 4 mil histórias de brasileiros com mais de 50 anos que portam o vírus HIV. De acordo com o "Boletim Epidemiológico AIDS/DST" divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de pessoas com 50 anos ou mais infectadas subiu 171% de 1995 a 2005.
Em dez anos, o número de casos registrados passou de 1.528 para 4.153. Portadoras de HIV acima de 60 anos, como R., eram 100 em 95; em 2005 passaram a 397.
Os números refletem duas realidades completamente diferentes. De um lado, a evolução no controle do vírus, que ampliou consideravelmente a expectativa de vida de pacientes com tratamento adequado. Do outro, o aumento do número de novos casos, questão que preocupa os infectologistas do país.
"Eles (da terceira idade) acham que são incólumes e não correm o risco de adquirir o HIV. Todas as campanhas feitas são voltadas para um público jovem. Nunca se colocou um idoso falando de cuidado com o sexo, de camisinha", analisa o infectologista Jean Carlo Gorinchteyn, que acompanha casos desse tipo no dois hospitais paulistanos em que atende. A paciente mais velha dele tem 91 anos.
Há 12 anos no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência no combate à Aids, Gorinchteyn aponta que a vida sexual na terceira idade envolve riscos semelhantes aos de outras fases da vida. A difusão dos remédios para disfunção erétil nos últimos anos tornou esses perigos ainda mais agudos.
"Homens que viveram uma época em que não havia camisinha voltaram a ter relações, mas nem pensam em usar camisinha", lamenta, lembrando que nem todos os homens tomam remédios para se relacionar com as esposas.
Rupturas descobertas da doença em pacientes acima de 50 anos tem impactos que ultrapassam o físico.
"Quando o diagnóstico sai, os laços de família sempre acabam comprometidos. Ou há rupturas ou há aproximações. O diagnóstico pode afastar as pessoas, principalmente quando já existem elos frouxos. Muitas vezes o paciente acaba sendo abandonado. Em outras famílias, os avós são cuidados pelos próprios netos".
A reação de esposas traídas que se descobrem infectadas vai da raiva à compaixão. "Normalmente, as mulheres são muito mais corteses", diz o médico, lembrando de um caso em que a mulher ameaçava matar o marido e, ao mesmo tempo, perguntava se, por causa do vírus, ele corria o risco de morrer.
"É uma situação bastante difícil. Acompanhei um casal que estava junto há 40 anos e ela descobriu que o marido era soro-positivo quando ele foi internado com pneumonia. Não é só o diagnóstico de uma doença. De repente, a pessoa percebe que está dormindo com um desconhecido. Um diagnóstico como esse revela hábitos que são desconhecidos", afirma.
Quando recebem apoio de amigos e parentes, os pacientes da terceira idade tendem a seguir com mais rigor o tratamento do que os mais jovens. "Eles usam a medicação com muito mais rigor, mais zelo. O idoso sabe o horário, sabe como tomar o remédio", completa o infectologista.
A aposentada R. parece comprovar a tese. "Tenho feito o tratamento direitinho. Não sou doente, só tenho HIV", assegura.