Categoria: Internet "Aos 91, ex-professor vai à USP todos os dias há quase 75 anos"


Aluno da 1ª turma de química, Paschoal Senise tem uma sala no instituto.
Veja linha do tempo da universidade, que faz 75 anos no domingo (25).

Fernanda CalgaroDo G1, em São Paulo


 

 

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Paschoal Senise, um dos primeiros a obter o título de doutor pela USP (Foto: Mateus Mondini/G1)

Com uma memória intocada, Paschoal Senise, 91 anos, ainda se lembra de detalhes dos tempos em que começou a frequentar os bancos do curso de química da então recém-criada Universidade de São Paulo (USP). De aluno, passou a professor e ocupou cargos de direção. Durante quase 75 anos, ele sempre manteve algum vínculo com a instituição e, até hoje, vai todos os dias à sua sala no Instituto de Química, no andar superior do bloco 2.

 

Veja a linha do tempo com os principais acontecimentos dos 75 anos da USP

 

“A USP é a minha segunda casa”, diz ele, com toda a razão, sobre a universidade que completa 75 anos de existência no próximo domingo (25). Ele tinha 17 anos quando ingressou na universidade. Aposentado há mais de 20 anos, ele atualmente ajuda na coordenação de seminários sobre química analítica.

 

"Alguns cursos começaram a funcionar em 34 e outros, como o de química, em 35. Eu sou da primeira turma, que só teve quatro alunos formados”, conta.

 

“Pouca gente, naquela época, sabia o que era o trabalho de químico, ao contrário das carreiras mais convencionais, como medicina e direito”, diz, ao explicar o número diminuto de alunos. Ao lado dos colegas de turma, ele foi um dos primeiros que obtiveram o título de doutor pela instituição.

  

 

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Palacete na Alameda Glete, onde funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), no ano de 1937 (Foto: Acervo Caph/USP)

“O curso fazia parte da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e começou num anfiteatro da Faculdade de Medicina, na avenida Dr. Arnaldo. Depois, passou para um casarão na Alameda Glete, na região central e, somente na década de 60, fomos transferidos para a Cidade Universitária", lembra-se.

 

Quando olha para trás, para a época em que começou na área, ele diz ficar espantado. “A diferença para os tempos atuais em termos de progresso tecnológico é surpreendente. Para os profissionais de hoje fica difícil imaginar as dificuldades e limitações de então. Ainda bem que as coisas evoluíram.” 

Logo após a sua graduação, foi contratado como professor e, tempos depois, assumiu a direção do Instituto de Química por duas vezes, de 70 a 74 e de 78 a 82.

 

Ele também foi um dos principais responsáveis pela implantação da pós-graduação na instituição e, por 17 anos, exerceu a Coordenação da Câmara de Pós-Graduação (equivalente à atual Pró-Reitoria). 

 

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Professores da missão francesa, em 1934, que ajudaram na criação da USP (Foto: Acervo Caph/USP)

Professores estrangeiros

“A criação de uma universidade da qual faríamos parte deixou todos nós, alunos, muito entusiasmados”, relembra Fernando Penteado Cardoso, que, aos 94 anos, é o aluno mais longevo da USP. Ele cursava o segundo ano de agronomia da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq) em 1934, quando a USP foi criada. 

Pouco tempo antes, o estado de São Paulo havia sido derrotado na revolução de 32 e o surgimento de uma universidade foi visto como um ato político destinado a fortalecer o estado no cenário nacional. A USP foi criada então a partir da junção de diversas faculdades espalhadas pela capital paulista e pelo interior, como a Faculdade de Direito do largo São Francisco, a Faculdade de Medicina e a Esalq. 

“Foi um ato de grande visão, que deu um relevo maior ao ensino superior. Ficamos animados com a vinda de professores estrangeiros”, diz Cardoso, referindo-se às missões de professores que vieram do exterior para trabalhar na USP. 

Os franceses, em maior número, foram convidados para os cursos de ciências sociais, filosofia, história, geografia e literatura francesa. Alemães vieram para lecionar nas áreas de química, botânica e zoologia. Das universidades italianas, chegaram docentes de matemática, física, mineralogia e geologia e literatura italiana. 

Na década de 40, foi obtida a área no bairro do Butantã, Zona Oeste da cidade, para a instalação do campus universitário, que, pouco a pouco, passou a abrigar boa parte dos cursos.

  

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Ônibus circula por trecho em construção da Cidade Universitária, no ano de 1964 (Foto: Acervo CCS/Jornal da USP)

No fim dos anos 60, a instituição passou por uma reforma universitária, e as cátedras foram extintas e criados os institutos, com departamentos.

 

“Foi um grande ganho. As cátedras eram um entrave para o desenvolvimento das universidades, porque o professor catedrático escolhia livremente os seus assistentes e podia dispensá-los a qualquer momento. Por outro lado, o departamento permitiu uma maior integração entre diferentes áreas e trouxe uma liberdade de ação aos docentes”, opina Paschoal Senise, que, em 2006, publicou o livro "Origem do Instituto de Química da USP: Reminiscências e comentários", em que relata como se deu a reforma universitária.