
Relíquias
A coleção era repleta de uísques raros, adquiridos em viagens por diversos países. A garrafa mais antiga da coleção era de 1893, segundo Vidiz. Mas algumas eram consideradas raras pela pouca quantidade de exemplares produzidos. Um dos exemplos é uma edição comemorativa produzida pela destilaria Strathmill em comemoração aos 100 anos da marca. Foram feitas 100 unidades e o colecionador possuía a de número 69. Uma das mais caras compradas por ele foi uma edição do uísque Dimple Pinch produzido para marcar os 350 anos da Haig que, segundo Vidiz, é a marca da bebida mais antiga do mundo. “A nossa garrafa era a 1.309 de 1.500 [produzidas]. Era toda revestida em prata de lei inglesa e custou, na década de 70, US$ 1.000. É uma das garrafas que eu mais me identifiquei e tinha mais carinho”, lembra. Ele conta que foi muito difícil se desfazer de alguns exemplares. “Eu tinha garrafas muito especiais, que, se eu fosse pedir, eu pegaria umas 30. Eram coisas pessoais, assinadas no rótulo, por exemplo, pela pessoa que criou aquele uísque. Mas eu tinha que dar porque era importante para uma coleção”, justifica. Não fazia parte do acervo o exemplar mais caro que o colecionador tem notícias. É uma edição limitada do uísque Macallan com 60 anos de envelhecimento. Foram produzidas apenas 12 garrafas, que custam mais de R$ 80 mil. “Eu gostaria muito [de ter], sem a menor dúvida. Essa garrafa engrandece somente 12 pessoas, 12 coleções ou 12 bares. Oito delas foram vendidas para o Japão”, diz. Apesar de ter vendido a coleção, ele manteve dois exemplares do acervo. Um Johnnie Walker Blue Label autografado pelo piloto de Fórmula 1 Juan Pablo Montoya e outra edição do uísque cuja garrafa é feita de cristal Baccarat. Segundo o colecionador, essa última seria facilmente reposta pela Diageo, por isso decidiu ficar com o exemplar.
Pub construído por aposentado na casa dele (Foto: Luciana Bonadio/G1)
Junto com o espaço que abrigava a coleção em sua casa, que Vidiz chamava de museu, ele construiu um pub tipicamente escocês. No bar, há cerca de 30 marcas de uísque que os convidados podem tomar. “Aqui, tudo o que tiver é para beber. Pelo menos eu tinha a garantia que nenhum engraçadinho ia querer abrir uma garrafa”, conta. Na garagem da residência, ele ainda mantém cerca de 500 garrafas para abastecer o pub.
Início por acaso
A coleção reunida ao longo de 37 anos começou por acaso, com seis garrafas trazidas a Vidiz por um escocês. Como funcionário de uma indústria farmacêutica, ele costumava recepcionar muitas pessoas que vinham da matriz inglesa. “Eles chegavam aqui e, depois do expediente, queriam sempre uísque”, lembra. A bebida era cara nos anos 70, por isso ele sugeriu que cada funcionário comprasse o uísque no free shop e a empresa reembolsasse. Um deles trouxe, no entanto, uísques adquiridos na Escócia. O ano era 1971. “Ele disse ‘você vai levar para a sua casa e abrir em ocasiões especiais, com gente que entenda de uísque’. O que ocorreu? Nunca abri nenhuma das seis garrafas e elas viraram 3.391.” O presente foi o pontapé inicial para a paixão. “O início da coleção foi puramente acidental, não foi pensada, não foi calculada. Dali começou um interesse, mais leitura, até virar paixão, loucura absoluta. Isso veio me preencher uma grande parte da minha vida de pós-aposentado”, conta. O dono da maior coleção de uísques escoceses do mundo experimentou a bebida pela primeira vez apenas aos 33 anos, no Rio de Janeiro. Após 37 anos dedicados ao acervo, ele não revela qual sua marca de uísque favorita. “Eu não tenho uma marca. É claro que têm algumas que são mais freqüentes que outras. Por isso, quando me perguntam, eu digo que o uísque tem que ter dois ingredientes: que agrade ao meu paladar e que minha conta bancária possa garantir a compra dele.”