Segundo a revista americana "People", Hugh Jackman é "O Homem Mais Sexy Vivo". Muitos podem concordar com essa afirmação, apesar de haver, claro, os partidários de muita gente diferente, de Zac Efron a Clint Eastwood. Não é preciso dizer que o homem mais sexy vivo é um astro do cinema. Dos 23 homens mais sexy eleitos pela revista até o momento, apenas um, John F. Kennedy Jr., não era um artista. Não é tão sonoro, mas "Astro do Cinema Mais Sexy Vivo" seria o título mais preciso.
Os astros de Hollywood gostam de pensar em si mesmos como atores, mas a sensualidade faz parte do trabalho deles. Já houve grandes astros com abundância de sex appeal e sem nenhum talento como ator. Entretanto, por apenas alguns poucos anos, no final dos anos 60 e início dos anos 70, foi possível para um homem que não era convencionalmente sexy - Dustin Hoffman - ser um grande astro do cinema. Para as atrizes, o sex appeal sempre foi um componente essencial do estrelato.
Pitt, Clooney, DiCaprio, Depp e Cruise: quem ainda será um ídolo para as gerações futuras?
Atores brilhantes que ficam de fora das fronteiras da beleza convencional, como Kathy Bates, Paul Giamatti ou Christopher Walken, podem ter carreiras longas e recompensadoras, mas têm pouca chance de se tornarem grandes astros. Por mais prêmios Oscar de melhor ator ou melhor atriz que recebam, eles estão condenados - ou abençoados - a carreiras como atores de composição.
Rodolfo Valentino nos anos 20
Mas como em todas as outras coisas, a moda no sex appeal muda; carreiras florescem e minguam. O homem mais sexy de hoje pode ser o ícone das telas amanhã: Mel Gibson, que foi o primeiro "Homem Mais Sexy Vivo" da "People", em 1985, ainda aparece bem cotado nas pesquisas atuais. Por outro lado, pouco se ouve falar de Harry Hamlin, o escolhido de 1987.
Mas isso não deveria causar surpresa. Se a "People" existisse em 1926, Rodolfo Valentino certamente teria colecionado seis honras consecutivas de "Homem Mais Sexy". Ele foi o primeiro símbolo sexual verdadeiro do cinema, o homem dos sonhos de milhares de mulheres que desmaiaram de pesar e lotaram seu funeral quando ele morreu subitamente em 1926.
Mas hoje o sex appeal de Valentino é aceito apenas com base na crença nos relatos, com exceção de algumas poucas pessoas centenárias. Ao assistir seus filmes atualmente, a idéia de que aquele homem foi apelidado de "O Grande Amante" e de que foi ídolo de milhões de mulheres simplesmente não cola. Sua maquiagem pesada, seu tipo físico e seus trejeitos parecem mais ao espectador moderno como sendo, digamos, gay.
Clark Gable, Cary Grant, Humphrey Bogart... Se o ator mais sexy dos anos 20 parece hoje quase ridículo, alguém poderia esperar que seu equivalente dos anos 30 poderia se sair apenas um pouco melhor. Mas, na verdade, Clark Gable ainda aparece nas listas dos homens mais sexy, e uma mulher jovem moderna assistindo a "Aconteceu Naquela Noite" (1934) ou a "E o Vento Levou" (1939) pode se deixar seduzir por Gable da mesma forma que sua avó ou bisavó. O forte machismo de Gable e seu charme rude continuam funcionando, três quartos de século após ele se tornar um astro.
As décadas que se seguiram trouxeram mais do mesmo. A sofisticação desembaraçada de Cary Grant e o estilo cansado cool de Humphrey Bogart ainda mexem com o público moderno, enquanto William Holden parece meio rígido e Rock Hudson parece mais um comediante talentoso do que um símbolo sexual. Robert Redford ainda parece um Adônis moderno, enquanto o fato de Woody Allen ter encabeçado várias listas de homens sexy nos anos 70 parece somente uma prova do abuso excessivo de drogas na época.
No lado feminino, os resultados pouco diferem. Bette Davis hoje é mais amada por drag queens, mas Marilyn Monroe continua sendo um ícone. O charme urbano e afiado de Jean Arthur e Barbara Stanwyck não conectam, mas o jeito cativante de Audrey Hepburn é tão atraente hoje quanto nos anos 50. Faye Dunaway parece destinada ao céu das drag-queens, mas Julie Christie ainda é radiante.
Como os astros de hoje serão vistos no futuro? E quanto aos astros de hoje? As futuras gerações de mulheres jovens se encantarão por Brad Pitt, Will Smith e Leonardo DiCaprio, enquanto seus namorados fantasiarão com Julia Roberts, Kate Winslet e Catherine Zeta-Jones? Ou o sex appeal deles será mais um motivo para os jovens duvidarem da sanidade de seus pais - presumindo que os grandes astros de hoje ainda serão lembrados?
James Dean ainda é ícone de sex appeal, mesmo tendo feito apenas três filmes
Bem, DiCaprio tem uma boa chance de perdurar. Um dos segredos da imortalidade nas telas é que décadas de carreira como grande astro não são tão importantes quanto fazer um único filme icônico que tenha apelo junto às gerações subsequentes. Gable fez dezenas de filmes de alta qualidade, mas seu status de ícone se apoia em apenas um, "E o Vento Levou". Mas um basta, desde que o ator passe a imagem de sexy e atraente. Em "E o Vento Levou", Leslie Howard não passa, portanto ele passou à nota de rodapé do fã de cinema. Mas Gable passa, de forma que é imortal. Bogart também é imortal, mas não seria se não fosse por "Casablanca" (1942).
"Titanic" (1997) deve fazer o mesmo por DiCaprio, mesmo que nunca mais fizesse outro filme. Assistir múltiplas vezes o épico trágico de James Cameron ainda é um rito de passagem para as meninas adolescentes, mais de uma década após seu lançamento, e é bem possível que suas bisnetas ainda respondam ao largado Jack Dawson de DiCaprio.
Pitt ainda precisa fazer um filme duradouro, em parte por ser claramente avesso à idéia do estrelato cinematográfico. Ele evita veículos óbvios de astro - "Lendas da Paixão" (1994) e "Tróia" (2004) são o mais próximo que chegou - em prol de dramas sombrios e ambíguos como "Seven - Os 7 Pecados Capitais" (1995), "Os Doze Macacos" (1995), "O Clube da Luta" (1999) e "Sr. & Sra. Smith" (2005). Todos reforçam sua credibilidade como ator, mas nenhum a sua posição como ícone.
Não é necessária um longa carreira para obter imortalidade nas telas. James Dean fez apenas três filmes antes de sua morte, e permanece um ícone de sex appeal no cinema.
Imagem particular nas telas
Mais importante para os imortais aspirantes é cultivar uma imagem em particular na tela e se desviar apenas raramente desta imagem. Dean fez isto e Gable também tinha um senso apurado do que podia e não podia fazer na tela. Nas raras ocasiões em que a MGM o tirou de sua zona de conforto - como quando cantou e dançou "Puttin' on the Ritz" de Irving Berlin em "Este Mundo Louco" (1939) - ele parece um pouco embaraçado. Ele não usava perucas, envelhecia ou adotava sotaques diferentes de um filme para outro. Quando você assistia um filme de Clark Gable, você sabia o que encontraria.
Comparando com outro astro contemporâneo, Fredric March era claramente melhor que Gable como ator. Ele mergulhava profundamente em seus papéis, mudava sua atitude, seu cabelo, seu andar e suas roupas para se tornar os personagens que interpretou em filmes clássicos como "Nasce uma Estrela" (1937), "Os Melhores Anos de Nossas Vidas" (1946), "A Morte do Caixeiro Viajante" (1951) e "O Vento Será Tua Herança" (1960). Ele ganhou dois Oscar contra um de Gable, e teve cinco indicações contra três de Gable.
Mas hoje March é virtualmente desconhecido, reconhecido apenas por fãs de cinema. Seus 30 anos como um dos grandes astros de Hollywood praticamente desapareceram. Certamente parte disso se deve ao fato de que, mesmo no auge de sua fama, March nunca teve que se esforçar para evitar ser reconhecido nas ruas. Todo mundo conhecia seus personagens, mas o ator não se parecia nada com seus papéis.
Meryl Streep esquecida no futuro? Será mesmo?
Segundo este padrão, Tom Cruise tem uma boa chance de fama duradoura. Por 25 anos ele manteve uma imagem reconhecível e, mesmo quando foi além dela em filmes como "Magnólia" (1999) e "Colateral" (2004), ele cuidou para que os novos personagens fossem de modo geral consistentes com a imagem estabelecida previamente.
Cate Blanchett e Meryl Streep? Elas já esqueceram mais sobre atuação do que Cruise jamais saberá, mas elas se parecem com a versão desta geração de Fredric March, provavelmente homenageadas em vida e gradualmente esquecidas depois. Por definição, camaleões são difíceis de lembrar.
Morrer enquanto sexy
Um último segredo pode bastar para dissuadir os astros de hoje a aspirar pela imortalidade: é melhor morrer enquanto ainda é sexy.
Bogart, Dean, Gable, Monroe e mesmo Valentino não viveram o suficiente para envelhecer. Greta Garbo, Cary Grant e Audrey Hepburn fizeram a segunda coisa melhor, ao se aposentarem das telas enquanto ainda eram adorados e envelheceram longe das câmeras.
Enquanto isso, Bette Davis, Gloria Swanson e Mae West passaram de deusas do sexo nos anos 30 a caricaturas nos anos 60. James Stewart e Gregory Peck envelheceram nas telas -Stewart tinha 78 anos quando fez seu último filme e Peck tinha 82 - de amantes a pais, avós e além, e raramente aparecem em listas de astros mais sexy. Assim como Katharine Hepburn, uma beleza atlética dos anos 30 que foi vista pela última vez como uma matrona encurvada nos anos 90.
Esta regra pode não se aplicar tanto no século 21 - Sean Connery e Clint Eastwood ainda aparecem nas listas com seus mais de 70 anos - mas vale a pena lembrar que nossa visão dos grandes astros do passado está estreitamente relacionada com a forma como os vimos pela última vez. O preço de uma carreira muito longa pode ser a de ser lembrado como um idoso, em vez de um jovem vibrante. Para muitos astros narcisistas, este pode ser um preço muito caro a pagar.
Mas nenhum de nós sabe como será lembrado. Apenas o tempo dirá se Hugh Jackman será outro Clark Gable ou outro Rodolfo Valentino. Ou mesmo outro Harry Hamlin.
(Gayden Wren é editor de entretenimento do "New York Times Syndicate")
Tradução: George El Khouri Andolfato