Atribuir a deterioração da saúde de pessoas idosas à condição natural da idade é um erro comum cometido pela maioria das pessoas. Apesar de a velhice contribuir para que algumas condições se desenvolvam mais rapidamente, já que o corpo responde com menor intensidade ao combate dessas doenças, a reversão desses quadros pode ser tão promissora – apesar de menos rápida – quanto em pessoas mais jovens. A atenção aos primeiros sinais de comprometimento da saúde nesses casos é importante para uma volta ao equilíbrio do organismo.
Exames de check-up em idosos previnem avanço de doenças gravesWilson Jacob-Filho, diretor do Serviço de Gerontologia do Hospital Sírio-Libanês, aponta que o envelhecimento é acompanhado, frequentemente, por uma maior possibilidade de aparecimento das doenças crônicas, que podem ser mais facilmente acompanhadas de complicações.
“Como tanto essas doenças quanto as complicações associadas costumam provocar menos sintomas e sinais característicos com o avançar da idade, é fundamental que sejam alvo de uma busca ativa para diagnosticá-las precocemente, visando ao seu controle e estabilidade”, diz o especialista.
“Alterações do equilíbrio ou dificuldades na movimentação podem ser as primeiras manifestações de uma complicação vascular, que quando devidamente tratadas regridem, permitindo a melhora da funcionalidade”, exemplifica Jacob-Filho, salientando que o check-up na idade avançada é a principal forma de proteger esses indivíduos de uma perda de qualidade de vida.
A avaliação sistemática do idoso nos seus vários componentes funcionais é a melhor maneira de detectar as doenças subliminares e tratá-las adequadamente, afirma Jacob-Filho. “É preciso estar constantemente atento para estes indícios, por mais sutis que sejam, para evitar a progressão da enfermidade ou a sua descompensação”, completa.
Abaixo, o especialista responde a algumas questões sobre o assunto.
A “síndrome geriátrica” e as “doenças da velhice” são problemas similares?
Síndromes geriátricas são conjuntos de sinais e sintomas que podem ser decorrentes de várias enfermidades e cuja caracterização deve ser seguida da necessidade de um ou mais diagnósticos etiológicos para que possa ser devidamente tratada e controlada.
Um bom exemplo é a valorização de um estado de anemia em um idoso com múltiplas queixas funcionais. A busca pelas suas possíveis causas, que podem incluir os distúrbios nutricionais, parasitoses, intestinais, doenças pépticas ou neoplasias ocultas deve ser objetivamente planejada. O idoso não pode ser excluído da “boa prática médica” só porque é idoso.
Já as chamadas “doenças da velhice” é uma denominação frequentemente utilizada por aqueles que não acompanham a evolução atual do conhecimento científico. A velhice não é associada ao aparecimento de doenças, mas ao aumento de suas complexidades. Por isso a necessidade de um especialista.
Existe muita diferença entre esse grupo de pacientes e grupos de outras faixas etárias?
Muitas no que diz respeito à fisiologia, fisiopatologia das doenças e tolerância aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, além das peculiaridades psíquicas e sociais que caracterizam esta faixa etária.
Qual o intervalo de tempo entre os exames de check-up de uma pessoa idosa?
O intervalo das avaliações depende do conjunto de enfermidades e de fatores de risco individuais. Ou seja, não existe uma regra geral: é algo individualizado, definido pelo médico que acompanha aquele determinado indivíduo. A atenção para cada uma dessas pessoas – com suas histórias de vida e hábitos pessoais – e para o conjunto da sua saúde deve ser similar em qualquer idade.
Quais as principais condições que precisam ser observadas?
Devem ser avaliados, fundamentalmente, os principais determinantes das graves limitações que podem levar o idoso a se tornar frágil. As principais alterações que podem ocorrer são:
• cognição e do humor: observamos a memória e a verificação de sintomas depressivos ou ansiosos por exemplo.
• equilíbrio e da marcha: alterações do equilíbrio e do andar podem gerar quedas ou comprometimento muscular.
• nutrição e da composição corporal: o corpo da pessoa idosa precisa de atenção nesse ponto, pois pode refletir em como será a resposta desse indivíduo a uma determinada condição de saúde.
• autonomia e da independência: alterações de saúde que comprometam a independência da pessoa em continuar com seus afazeres diários.
Além de tudo isso é importante estar atento também aos potenciais malefícios provocados pelos medicamentos inadequados.
Qual a importância da participação dos cuidadores na saúde do idoso? É recomendado que eles também acompanhem o check-up e tenham maior contato com os médicos?
Todos os idosos que necessitam da participação de um cuidador devem incluí-lo em todas as atividades de assistência à sua saúde, desde uma simples avaliação até as orientações que deverão ser seguidas. O cuidador deve ser entendido como um aliado na obtenção dos resultados que planejamos ter com as intervenções propostas.
Fonte: Uol
Edição: A.N
02/12/2010