O amor veio de repente, de mansinho. A pensionista Eurides Peres da Silva e o aposentado Ildo Mazzola mal se deram conta, mas já estão namorando há cinco anos. O tempo não levou o carinho. Pelo contrário, deixou o namoro mais fácil, menos complicado, e trouxe até uma liberdade que eles não conheceram na juventude.
"Quando eu era nova, meu pai não deixava. Tinha que sair só com a permissão dele. Então, era ruim. Agora, nós saímos e não damos conversa para ninguém. Temos mais liberdade, por isso, está melhor agora", comemora Eurides.
Eurides tem 67 anos. Ildo, 68. Os dois mantêm uma relação moderna: cada um na sua casa. São viúvos, com filhos criados e netos crescendo.
"É legal ver minha mãe namorando. Ela está se divertindo, está saindo. É bom", comenta o administrador de empresas Mário Sérgio da Silva.
Todo sábado à noite Ildo espera no sofá enquanto Eurides se enfeita para o baile.
"Quando começamos a dançar, eu perguntei se ela queria namorar comigo. Foi no mesmo dia", lembra Ildo.
"Eu disse: 'Olha que eu vou aceitar'", completa Eurides.
Para que perder tempo e para que guardar sorrisos? Eurídes e Ildo fazem parte de uma turma que passou dos 60 com sede de viver.
"Acho que é importante o sexo no namoro, mas não tanto como quando somos novos. Agora é mais calmo, mas tem que ter o seu dia", diz Eurides.
"Muda bastante para o homem também. Continua a mesma coisa, mas vai diminuindo", completa Ildo.
Com a saúde em dia, o sexo faz bem em qualquer idade. Mas o desafio nesta fase da vida é ajustar o descompasso que existe no interesse sexual de homens e mulheres. Maria Lúcia Lebrão coordena uma pesquisa sobre saúde, bem-estar e envelhecimento na cidade de São Paulo. Foram ouvidos moradores com mais de 60 anos. Quando perguntados sobre sexo, 51% dos homens responderam que têm vida sexual ativa e apenas 15% das mulheres.
"No momento em que a mulher já não tem mais a condição da procriação, muitas culturas passam um pouco a idéia de que a atividade sexual pode ser uma coisa impura, uma coisa suja. Ao passo que para o homem não. Ele mantém o interesse pela vida sexual até o fim da vida praticamente", explica Maria Lúcia Lebrão.
"Esse ainda é um estigma no Brasil. Infelizmente, quando vão envelhecendo, as pessoas não ficam muito à vontade em dizer que ainda sentem desejo, necessidade sexual. A longevidade é uma situação cada vez mais instalada. Então, se nós vamos viver 90, 100 anos, vamos agora aposentar a nossa vida sexual aos 50? Teremos 30, 40 anos de vida sem atividade sexual? Não se admite mais isso", diz a pesquisadora Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo (USP).
Eurides e Ildo querem ajudar a desenhar esse novo mapa do comportamento sexual do brasileiro. Querem aproveitar todo o tempo para ser feliz. Corpo em dia, cabeça leve e um coração aberto para o amor.
"Tem horas que você pode ser vovó e tem horas que você não é vovó", brinca Eurides.