Em abril, um dos músicos mais sexy dos Estados Unidos – segundo a revista de celebridades People – desembarca no Brasil. Errou quem pensou em Justin Timberlake ou qualquer outro garotão do pop. O símbolo sexual em questão é o maestro e compositor Burt Bacharach, de 80 anos. "Fico lisonjeado ao saber que sou desejado, mas prefiro ser reconhecido pelo meu talento musical", disse Bacharach em entrevista a VEJA. (Puro jogo de cena: numa reportagem recente do jornal inglêsThe Times, ele fez questão de conversar com o repórter na piscina de sua mansão de 8 milhões de dólares, besuntado de protetor solar e trajando uma sunga diminuta.) O compositor vai se apresentar em Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. O repertório dos shows será calcado no disco Live at The Sydney Opera House, lançado no fim de 2008.
Bacharach tem formação clássica. Foi aluno do compositor francês Darius Milhaud na década de 40. "Milhaud me ensinou duas coisas: não ter vergonha de criar melodias que as pessoas possam assobiar e apreciar a comida mexicana", diz ele. Melodista de primeira categoria, Bacharach dominou a parada americana na década de 60 com sucessos como I Say a Little Prayer, Walk on By e The Look of Love (as duas primeiras, interpretadas por Dionne Warwick; a outra, cantada magistralmente pela inglesa Dusty Springfield). Começou a perder fôlego na segunda metade dos anos 70 e nas décadas seguintes virou sinônimo de música para elevadores e salas de espera. Sua obsessão pelo flugehorn, um instrumento de sopro que marca presença em 90% dos seus arranjos, só reforçava a aura de artista ultrapassado. Em 1997, contudo, Bacharach foi tirado desse limbo. Cruzou a linha que separa o cafona do cult. Apareceu na comédia Austin Powers e suas canções embalaram O Casamento do Meu Melhor Amigo, estrelado por Julia Roberts. No ano seguinte, uniu-se ao roqueiro inglês Elvis Costello para lançar o disco Painted from Memory. Desde então, seu trabalho foi revisitado por roqueiros de várias vertentes – de Noel Gallagher, do Oasis, ao duo The White Stripes. "Esses meninos mostraram que as boas canções não envelhecem", diz Bacharach, que atualmente compõe com outro "menino" (sob o seu ponto de vista): Brian Wilson, dos lendários Beach Boys, hoje com 66 anos.
Retornos como o de Bacharach são um fenômeno relativamente raro na indústria musical. Não têm a ver propriamente com nostalgia, uma vez que o público que passa a reverenciar o veterano é jovem demais para se lembrar de quando ele estava no auge. São, antes, explorações da pré-história do pop e do rock. Por isso costuma haver um patrono do ressurgimento – alguém de idade intermediária, com autoridade para reapresentar ao mundo o "gênio esquecido". Elvis Costello desempenhou esse papel em relação a Burt Bacharach. Em 1993, Bono, do U2, fez o mesmo com Johnny Cash, que estava relegado ao mercado country. No caso de Tony Bennett, coube à MTV realizar a mágica do rejuvenescimento: em 1994, o canal de televisão convidou o jazzista a gravar um de seus especiais acústicos.
Conhecido pela voz mansa e por seu sorriso largo, Bacharach é um homem charmoso. Embora ele próprio nunca tenha confirmado, reza a lenda que namorou ninguém menos do que a atriz alemã Marlene Dietrich na juventude (com a qual chegou a visitar o Brasil nos anos 50, quando ainda era um rapagão). Casado pela quarta vez, com Jane – professora de esqui que conheceu nas pistas de Aspen, nos Estados Unidos –, Bacharach é pai de um casal de adolescentes de 13 e 16 anos. Há dois anos, perdeu de forma trágica sua primogênita. Fruto de seu casamento com a atriz Angie Dickinson (uma espécie de Pamela Anderson dos anos 70), a filha Nikki sofria de um transtorno semelhante ao autismo. Mas nem seu suicídio, aos 40 anos, tirou de Bacharach o prazer de rodar o mundo com sua música.
RENASCIDOS DAS CINZAS Como veteranos esquecidos ganharam uma nova vida no pop
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