Categoria: Internet "Para viver 100 anos, estilo de vida e dieta podem superar a herança genética"


Por Cristina Almeida
Especial para o UOL Ciência e Saúde
A busca pela fonte para a juventude e o desejo da beleza eterna são anseios quase tão antigos quanto a própria humanidade. Apesar dos avanços da medicina e da consciência sobre a importância do estilo de vida para a longevidade, especialistas declaram que ainda não se descobriu alguma intervenção capaz de parar ou reverter o envelhecimento.

Há cinqüenta anos, acreditava-se que o dano celular era o maior responsável pelas alterações físicas que começam a ser mais evidentes em meados da quarta década da vida. Mas, após repetidos estudos sobre a variação da taxa de envelhecimento e o tempo de vida entre as espécies, concluiu-se que esses fenômenos naturais estariam relacionados a fatores genéticos.

O envelhecimento caracteriza-se pelo declínio das estruturas e das funções como resultado da passagem do tempo. Segundo Salmo Raskin, médico geneticista e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, essas modificações são naturais e "decorrem da chamada entropia, tendência pela qual os sistemas complexos do corpo humano começam a decair conforme a idade".

Raskin diz que, no mundo da ciência que estuda a genética, muito já se falou sobre os efeitos do envelhecimento. Mas, no momento, os pesquisadores querem entender quais são os genes capazes de alterá-lo ou atenuá-lo. "Eles seriam capazes de forçar certos mecanismos de reparo, o que aumentaria a resistência celular ao estresse (infecções e danos oxidativos). Além disso, haveria algum elemento apto a manipular processos de desgaste e sistemas de defesa celular."

Genes e longevidade

Envelhecer bem, então, pode ser uma característica genética? Não necessariamente, de acordo com Raskin: "Nossos genes fornecem apenas sugestões de quem envelhecerá bem e quem terá alguma doença que o levará à morte prematura. Contudo, isso não é determinante, a não ser em raras situações".

"Grosso modo, poderíamos dizer que a genética é 50% do processo, mas os fatores ambientais contam muito para se envelhecer bem", resume o médico. Ou seja: se uma pessoa com predisposição genética a morrer cedo por diabetes ou derrame tiver uma vida saudável (boa alimentação, exercícios, estímulo intelectual, distância do fumo e do álcool em excesso), é provável que a genética não prevaleça.

Indagado sobre a possibilidade futura de intervenção nos mecanismos genéticos do envelhecimento, o especialista declara que a hipótese é viável. Mas para ele, isso somente acontecerá se forem identificados os responsáveis pelo componente genético do envelhecimento. Nesse caso, será possível repor no organismo aquilo que, com o tempo, ele deixou de produzir, bem como eliminar o que foi acumulado indevidamente. "Se as as pesquisas com as células-tronco avançarem, talvez possamos regenerar tecidos desgastados pelo tempo ou pelas doenças", conclui.

O poder dos antioxidantes

Raskin comenta o recente estudo publicado na revista "Genes and Development" sobre o papel dos antioxidantes para retardar o envelhecimento. As conclusões demonstraram não existir nenhuma prova evidente de que os antioxidantes sejam capazes de desacelerar o processo de envelhecimento, colocando por terra um dos sustentáculos da indústria da juventude eterna:

"A teoria proposta há cinquenta anos sobre a relação entre oxidantes, células e envelhecimento ainda é uma das teorias mais populares. Porém, muitas das proposições originais desse pesquisador ainda são questionáveis, e algumas delas dependem de avanços tecnológicos para serem comprovadas ou descartadas". Para o médico, os antioxidantes são apenas um elemento de um enorme quebra-cabeças, e muitas das peças ainda não foram identificadas.

Contra a corrente

Já para S. Jay Olshansky, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Illinois-Chicago, a genética sempre prevalecerá sobre o estilo de vida. "A pessoa pode ter uma vida saudável, comer direito e fazer exercícios, mas, se não tiver os genes certos, não viverá 100 anos", garante.

Cuidar do estilo de vida, no entanto, é fundamental para viver melhor, não importa por quanto tempo. Mas consumir um coquetel de vitaminas todos os dias, como reza a indústria de suplementos, não contribui em nada. "As vitaminas vão gerar no máximo um xixi extremamente valioso", ironiza.

Olshansky acredita que uma pílula capaz de aumentar a expectativa de vida não está longe de existir. Provavelmente será uma droga para diabetes ou câncer que terá a longevidade como efeito colateral. Assim surgiu o Viagra, há uma década: um medicamento para o coração em estudo parecia melhorar a ereção dos pacientes, o que trouxe outro rumo às pesquisas.

Ele defende, entretanto, que seria mais interessante trilhar o caminho oposto: encontrar uma droga capaz de reverter o envelhecimento. Assim, seria possível prevenir o câncer, o diabetes, o Alzheimer e uma porção de outras doenças ao mesmo tempo. "Se esse composto pudesse desacelerar o processo de envelhecimento em apenas sete anos, o impacto sobre a saúde pública seria muito maior que uma eventual cura para o câncer", estima.

Pesquisas têm mostrado que o resveratrol, um componente do vinho tinto, tem potencial para a função, conforme explica o professor. Outra corrente de estudos têm sinalizado que a restrição calórica é outro fator que pode contribuir para a longevidade. Resta saber, Olshansky pondera, se a sociedade está preparada para abrigar uma população centenária. E se o próprio corpo humano terá condições de acompanhar esse avanço, em termos evolutivos. Seria preciso resolver problemas de locomoção, visão e audição, por exemplo. E o mais importante: "se essa intervenção não brecar também o envelhecimento do cérebro, não adiantará nada".


A importância da alimentação e restrição calórica

Entre as grandes descobertas da biologia do envelhecimento, o geneticista Salmo Raskin aponta como estrelas as dietas de restrição calórica, eficientes desde que se mantenham normais os níveis de proteínas, vitaminas e minerais. Seus benefícios poderiam estender a sobrevivência de três maneiras: reduzindo o metabolismo oxidativo, aumentando as defesas celulares antioxidativas e inibindo a morte celular.

Conforme os especialistas, a restrição calórica faz com que o corpo utilize com mais eficiência o combustível celular, levando à menor acumulação de danos oxidativos e ao aumento da resistência aos efeitos adversos. Outras pesquisas apontam para a interferência no sistema endócrino, com o aumento dos níveis do hormônio do crescimento.

Nutrição e geriatria

Myrian Najas, nutricionista e professora de geriatria e gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) explica que pesquisas sobre nutrição, envelhecimento e longevidade são as que mais se desenvolveram nos últimos tempos: "existem muitas pesquisas que hoje tentam encontrar associação positiva entre nutrientes específicos e o combate a doenças e ao envelhecimento", comenta.

Apesar dessas iniciativas, a especialista concorda com a opinião de Raskin sobre o fato de que ainda serão necessários muitos estudos para que se possa concluir o mosaico que compõe as causas do envelhecimento. "Normalmente as associações encontradas são ao acaso, como aquela verificada entre o consumo de azeite e a baixa mortalidade por doença cardiovascular descrita nos estudos realizados na região do mediterrâneo".

Uso de suplementos e vitaminas

Para a nutricionista, o estudo inglês sobre as limitações dos antioxidantes é o que de mais relevante ocorreu no ano de 2008. Trata-se de "uma excelente contribuição para os futuros questionamentos sobre o uso dos suplementos ou megadoses das vitaminas C, E, A ou betacaroteno, selênio e zinco, presentes em vários compostos, muitas vezes em quantidades inadequadas", critica.

Comer e beber

A especialista ressalta, ainda, que o principal efeito de uma alimentação saudável durante a vida é o controle de doenças crônicas como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias (alterações metabólicas), que podem causar grande impacto na expectativa de vida.

Indagada sobre os benefícios do resveratrol, substância presente na uva e no vinho, e festejada por cientistas americanos por suas propriedades antienvelhecimento, Najas explica que em vários estudos ele aparece como um fator protetor para as doenças cardiovasculares, o que indiretamente poderia proporcionar uma maior longevidade.

Mas, para ela, o futuro para a nutrição relacionada ao envelhecimento são os alimentos prebióticos e probióticos: os primeiros são fibras alimentares não digeridas pelo nosso intestino, presentes na aveia, cevada e trigo, por exemplo. Os segundos são os lactobacilos, encontrados nos alimentos lácteos fermentados. "Tanto os pré como os probióticos têm como função manter e/ou melhorar a função imunológica no organismo", ensina.


Para viver mais e melhor, atenção ao estilo de vida e prevenção

Alimentar-se adequadamente, manter-se numa faixa de peso adequada e praticar exercícios com regularidade são medidas já consagradas pela ciência para quem busca viver mais e melhor. Talvez essa seja a razão por que, na opinião do geriatra Clineu de Mello Almada Filho, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a maneira como envelhecermos depende muito mais do estilo de vida que adotamos (quase 75%), do que de nosso código ou bagagem genética.

"Quando consideramos longevos indivíduos que ultrapassam os noventa anos e que conseguiram retardar o aparecimento de doenças comumente encontradas aos sessenta anos, observamos que a carga genética tem um peso maior e alguns genes já começam a ser analisados com mais propriedade do ponto de vista científico", explica.

O especialista diz que se existisse uma receita para envelhecer bem, seu primeiro ingrediente seria cuidar da saúde por meio de iniciativas preventivas capazes de evitar doenças ou suas complicações, especialmente naquelas que, inevitavelmente, aparecerão nesse período da vida.

"Como não temos bola de cristal e não podemos discriminar nossa carga genética facilmente, ressalto a importância de um estilo de vida saudável, além de muita sorte".

Almada revela que a geriatria hoje está muito empenhada em estudar o processo do desenvolvimento de doenças degenerativas desabilitantes (Alzheimer, Parkinson), mas também tem se ocupado com o esclarecimento das causas que levam a envelhecer de maneira saudável, contrapondo-se aos sujeitos que apresentam maior vulnerabilidade (fragilidade).

"Cientificamente, o que tem relevância para as mais modernas pesquisas em geriatria é a avaliação dos parâmetros do envelhecimento que ficam entre entre os bem e os mal sucedidos", revela.

O geriatra concorda com o fato de que os segredos sobre envelhecimento e longevidade apontam para a importância e a influência das características genéticas dos indivíduos, mas acrescenta que "as alterações metabólicas que sofremos durante o processo de envelhecimento, as questões nutricionais e o papel da atividade física organizada são outras linhas de pesquisa em evidência na atualidade".

Alta expectativa de vida

Falando sobre a maior incidência do Alzheimer na população de idosos, o especialista pondera que há 30 anos a taxa de natalidade era muito importante para as políticas de saúde pública e a baixa expectativa de vida colocava doenças desse tipo em menor evidência.

No início da década de 2000, o IBGE já apresentava um prognóstico de que, em 20 anos, o país estaria em 6º lugar no ranking de países com população acima dos 60 anos.

As perspectivas levam a crer que, em 2025, esse grupo representará 15% do todo, contra os 6% apurados naquele período. Esses dados evidenciam o aumento do número de idosos na população e, conseqüentemente, elevam o fator de risco para doenças degenerativas.

Estima-se que hoje 10% dos indivíduos com mais de 60 anos apresentem essa propensão. Conforme relata Almada, quando analisamos grupos com mais de 85 anos, a prevalência da doença de Alzheimer se aproxima aos 50%.

Resultados favoráveis

Diante do aumento do número de idosos, o geriatra se diz otimista em relação ao futuro e conta que, embora ainda haja muito por fazer, algumas medidas já começam a dar resultados positivos. Cita como exemplo o acesso a medicamentos para tratamento de doenças degenerativas através do Sistema Único de Saúde (SUS) e as campanhas de vacinação contra gripe e pneumonia, importantes causas de morbidade e mortalidade nesse grupo.

Para o especialista, uma questão a ser melhorada é o estímulo ao suporte familiar, situação que ele entende ser muitas vezes escassa ou baseada na contribuição econômica que o idoso possa fornecer aos filhos que o assistem (apesar da parca aposentadoria).

Se o estilo de vida tem sido considerado um dos fatores mais importantes para a longevidade e o envelhecimento, a questão psicoafetiva não pode ser desprezada: "a forma como o idoso se relaciona em seu ambiente poderia reduzir a possibilidade de segregação em seus meios", diz.

Envelhecimento e questões de gênero

Se o envelhecimento é inevitável para todos, é implacável para as mulheres. Aos homens, a fertilidade até a idade muito avançada. Às mulheres, o fim da idade fértil por volta dos 49 anos, e a convivência forçada com os sintomas conseqüentes à ausência dos estrógenos produzidos pelos ovários, o chamado o hipoestrogenismo: calores (fogachos), seguidos de uma sudorese desagradável, irritabilidade, dores musculares e articulares, depressão, atrofia de pele, e do aparelho urogenital e alteração da sexualidade.

Para o ginecologista Mauro Haidar, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em climatério, fatores hereditários são fundamentais para a determinação e evolução do envelhecimento, assim como a dieta diária. Essa seria a explicação para o fato de que, para algumas mulheres, os desagradáveis sintomas da menopausa não são tão evidentes.

Reposição hormonal

A alternativa para que esse rito de passagem seja o menos penoso possível é a reposição hormonal. Haidar diz que o ideal é que a terapia aconteça com o apoio de especialistas multidisciplinares: "da primeira consulta deveriam participar médicos, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiras e professores de educação física. Isso porque as pacientes necessitam de todas as informações possíveis sobre esse novo momento de suas vidas".

Segundo o ginecologista, o estilo de vida e a terapia hormonal andam de braços dados no envelhecimento feminino. Cita como exemplo as orientações disponíveis na unidade de tratamento que dirige, que vão desde o tipo de calçado a ser utilizado (para evitar ou diminuir o risco de quedas, fraturas de braços e bacia), até os exercícios físicos adequados, tudo para garantir o bem estar físico e mental nessa fase.

Uma decisão da mulher

Mesmo diante de tantas controvérsias sobre a reposição hormonal, quem decide se é ou não o caso de fazê-la é a própria paciente. Haidar ressalta a importância do profissional esclarecer sobre o caráter preventivo do tratamento, que deve ter início na transição menopausal (onde iniciam os primeiros sinais e sintomas da deficiência ovariana). "A mulher precisa se sentir segura com as orientações médicas, ter certeza de que a terapia será personalizada, assim como deve ter ciência de que o tratamento é sempre preventivo e não curativo".

O especialista não nega que existam contra-indicações à reposição hormonal, que requer cuidados especialmente em relação a mulheres com neoplasias hormônio-dependentes, mas adverte, "quando a terapia é adequadamente aplicada, os benefícios são maiores do que as desvantagens que ela possa ocasionar".

Para neurologista, se a mente for sã, o corpo será saudável

Quando o assunto é saúde cerebral, ao contrário do que se pensa, as perdas relacionadas à idade são consideradas falsamente inevitáveis. O segredo para manter-se em boas condições neurológicas é manter-se tranqüilo e ativo, mesmo depois da aposentadoria. Esses são os conselhos do professor de Neurologia, Cícero Galli Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que declara que, além dessas atitudes, é importante que a pessoa esteja engajada em atividades de voluntariado que dêem suporte à percepção de si mesmo como indivíduo útil, com o fim de nutrir sonhos e objetivos a serem realizados até o último de seus dias.

Para Coimbra, fatores genéticos são, via de regra, predisponentes e não determinantes. Isso significa que, por si mesmos, eles não podem provocar o surgimento de doenças. Em relação às patologias cerebrais relacionadas ao envelhecimento, importam mais os fatores desencadeantes de natureza alimentar, ambiental ou comportamental que, associados a fatores predisponentes genéticos, podem provocar a manifestação de doenças.

O especialista revela que um dos estudos mais importantes para a compreensão de doenças como a esclerose múltipla, o mal de Parkinson e Alzheimer é sobre a relação entre estresse e envelhecimento cerebral: "em todas essas doenças, pessoas com uma personalidade mais ansiosa, que sofrem por tudo, por nada e por antecipação, propensos à depressão e a traumas profundos, assim como aquelas muito instáveis, estão mais predispostas ao desenvolvimento de doenças degenerativas do que indivíduos dotados de uma personalidade mais firme".

Coimbra explica que o sistema nervoso possui células tronco potencialmente ativas, mesmo em idade avançada e elas continuam a multiplicar-se para dar origem a neurônios jovens (neuroblastos), que migram a partir das áreas onde são produzidos para as regiões do nosso cérebro que são mais intensamente utilizadas. Conforme o neurologista, "a esse processo se dá o nome de neurogênese, e isso somente acontece se estamos emocionalmente estáveis".

Envelhecer bem

Coimbra cita um estudo iniciado na década de 1930 e mantido ativo por George Vaillant, psiquiatra da Universidade de Harvard, que demonstrou que "pessoas dotadas de personalidade tranqüila (capazes de enfrentar os problemas sem desespero ou se exasperação, fazendo apenas o que estava a seu alcance) atingiam idade avançada mantendo lucidez, ao contrário das pessoas dotadas de personalidade ansiosa, agressiva ou impaciente".

Em 2002, esse psiquiatra americano publicou um livro intitulado "Aging Well" [sem tradução para o português], relatando esses e outros resultados surpreendentes, que deixaram atônitos os membros da comunidade neurocientífica internacional. O neurologista conta que entre os resultados mais impactantes está o fato de que entre os sujeitos de personalidade tranqüila, aqueles que nutriam valores como altruísmo, perdão e gratidão, atingiam idade avançada acumulando lucidez, ao contrário de perdê-la.

Coimbra diz que as pesquisas de Vaillant se restringiram à comunidade científica, mas seria imprescindível sua divulgação para o grande público, especialmente porque na sociedade moderna os valores e sentimentos que estão na base da boa saúde cerebral são pouco valorizados.

A semente do Alzheimer

A necessidade de competir e o sobrepujar-se a qualquer custo tem como reverso o aumento do estresse e da agressividade: "a conseqüência física é a ampla redução da neurogênese, dando lugar a uma personalidade onde há pouco lugar para o desenvolvimento de qualidades humanitárias". E acrescenta, "é assim que se planta a semente para o desenvolvimento futuro do Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas".

Entre as atitudes que as pessoas precisam cultivar para terem uma vida mais saudável do ponto de vista neurológico, manter-se inserido num grupo social já foi cientificamente comprovado como benéfico, mas segundo o especialista, a dieta também deve ser objeto de atenção: "O consumo de carnes cozidas deve ser evitado (tanto de aves como de mamíferos, principalmente grelhadas ou fritas, e bem passadas, ricas em aminas heterocíclicas, altamente neurotóxicas e cancerígenas), o que exerce papel fundamental na prevenção de diversas doenças, inclusive neurodegenerativas".

"A chamada dieta do Mediterrâneo, rica em peixes, beringela, tomates e azeite é altamente favorável à prevenção dessas doenças, não somente pela reduzida quantidade de aminas heterocíclicas, mas também pela presença de grande quantidade de substâncias benéficas, tais como ômega-3, licopeno e outros", completa.

A teoria dos três "Qs"

O neurologista finalizada citando a professora Adozinda Kuhlmann que, aos 91 anos, ainda exerce sua profissão e, em suas palestras, explica a importância de viver com entusiasmo, além de dar sua receita para uma vida saudável: o perfeito equilíbrio dos três Qs - quociente de inteligência, quociente emocional e quociente espiritual. Para Coimbra, Adozinda é o exemplo perfeito das personalidades descritas por Vaillant e que atingem a idade avançada com saúde neurológica.

QUADRO

Metabolismo e processos oxidativos

Estilo de vida, exercícios físicos e dieta estão no topo da lista dos fatores responsáveis pela longevidade e envelhecimento saudável. O equilíbrio metabólico, ou a capacidade orgânica de combater o excesso de radicais livres, também tem sido apontado como fortemente responsável pela maior eficiência física nessa fase da vida.

O endocrinologista Geraldo de Medeiros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) explica que o metabolismo energético usa um combustível (glicose, glicogênio e ácidos graxos) para gerar calor, mover os músculos, ativar a circulação, manter a atividade cerebral, hepática, cardíaca e renal. O que sobra desse combustível, são os tóxicos radicais livres que atuam sobre as células. Com o passar dos anos, a enzima SOD (protetiva das lesões por radicais livres) se atenua no organismo, o que tem sido considerado um dos fatores mais importantes para o envelhecimento.

Para prevenir doenças nessa fase da vida e compensar as perdas naturais, o conselho do endocrinologista é manter mente e corpo ativos, citando como exemplo Oscar Niemeyer que até hoje trabalha e se casou recentemente. O especialista sugere ainda a "participação do meio social, exercícios, comer moderadamente, ter vida sexual, manter relacionamento estável, não abusar do álcool, usar vinho tinto moderadamente e dormir bem, respeitada a necessidade individual".

À sua lista de atitudes saudáveis na idade madura acrescente-se o uso de antioxidantes, ginko-biloba, ômega 3 e outros implementos, "mesmo e apesar da controvérsia científica sobre esse tipo de adjuvantes", pondera.

Para Medeiros, fatores genéticos são importantes, mas ainda desconhecidos: "dieta e estilo de vida ainda são determinantes para a expressão gênica, diminuindo o efeito genético".