Por Luiz de França
O que antes era parte do senso comum agora é comprovado cientificamente: praticar exercícios físicos ajuda também a combater os sintomas dadepressão entre idosos, além de estimular a formação de novos neurônios mesmo depois dos 60 anos de idade. Um estudo conduzido pela pesquisadora Andrea Camaz Deslandes, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), concluiu que 30 minutos de caminhada duas vezes por semana é o suficiente para que uma pessoa obtenha esses benefícios.
A pesquisa avaliou durante um ano um grupo de vinte pessoas com diagnósticos de depressão, com idades entre 65 anos e 75 anos. A metade se submeteu a apenas o tratamento farmacológico, enquanto a outra contou com os exercícios físicos e os remédios. Depois de duas avaliações semestrais, o segundo grupo apresentou uma vantagem de 50% na redução de sintomas da doença em relação ao grupo que não se exercitou. As variações foram medidas por eletroencefalograma.
"Foi graças a essa ferramenta, inédita nesse tipo de pesquisa, que pudemos constatar a alteração na atividade do córtex cerebral desses pacientes que se exercitaram, compatível com efeitos promovidos por alguns remédios antidepressivos", diz Andréa. Segundo a pesquisadora, alguns pacientes estavam próximos do comprometimento funcional quando iniciaram o programa. "Algumas atividades rotineiras, como subir escada e entrar num ônibus, estavam começando a se tornar um fardo para eles."
Fatores - A depressão na terceira idade está relacionada a várias questões fisiológicas, genéticas e do próprio ambiente. Alguns fatores contribuem quando existe uma pré-disposição genética à depressão. "A perda do status sócio-econômico, a diminuição da autonomia, a redução da capacidade funcional, a dependência física, o isolamento e a perda de parentes, familiares e amigos são alguns desses fatores", afirma a pesquisadora.
A redução dos neurotransmissores e as alterações físicas estão relacionadas à questão fisiológica, que também apresentou melhora nos doze meses do estudo. "O grupo que conciliou os medicamentos com a caminhada de 30 minutos duas vezes por semana apresentou uma evolução na formação de novos neurônios e de novos vasos, melhorando a cognição e o humor dos pacientes, além do aumento de neurotransmissores, o que ajuda a combater a depressão."
Afastamento - A depressão é uma doença mais comum do que se imagina. O afastamento de trabalho por motivos relacionados à depressão ou a transtornos de humor tem crescido tanto que a Previdência Social passou a catalogar a depressão como acidente de trabalho desde abril de 2008. Segundo dados do INSS, a depressão e outros transtornos mentais e comportamentais tiveram um aumento no número de concessão de auxílio acidentário da previdência de 0,4%, entre maio de 2006 e março de 2007, para 3%, entre abril de 2007 e fevereiro de 2008. Só em 2007, 74.418 pessoas foram afastadas temporariamente do trabalho com depressão.
Os resultados da pesquisa foram tão satisfatórios que um outro estudo já está em andamento - desta vez para avaliar os efeitos de outros tipos de exercícios físicos em pacientes de doenças degenerativas como o Alzheimer. "No momento, estamos recrutando as pessoas, que serão divididas em três grupos de exercícios: aeróbico, musculação e alongamento", antecipa a pesquisadora da Fiocruz. Enquanto isso, o primeiro grupo de ex-depressivos continua caminhando, como Maria (nome fictício), uma senhora de 77 anos que sofria de depressão havia dez anos e hoje se considera "a pessoa mais feliz do mundo".
Amizades - Mãe de duas filhas, avó de cinco netos e bisavó de um, Maria continua firme nos exercícios e não pretende parar mais. Sem querer tocar no assunto que causou a depressão, Maria afirma: "O cérebro é como uma mala que vai enchendo. Um dia ela não fecha mais e a gente precisa de ajuda para saber o que devemos jogar fora". Ela só lamenta ainda não ter convencido suas seis amigas que sofrem de depressão a entrarem para o programa. "Eu gostaria que elas fossem", diz, animada com as novas amizades feitas durante o estudo.