Segundo especialistas, envelhecimento e falta de leitos nos hospitais impulsionam aumento da procura por esses profissionais
Com o aumento da expectativa de vida, a profissão de cuidador de idosos está se tornando cada vez mais atrativa. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a esperança de vida ao nascer no Brasil cresceu três anos no período entre 1999 e 2009. O estudo aponta que, em 1999, a expectativa de vida do brasileiro era de 70 anos e, em 2009, de 73,1 anos.
Anos de referência | Esperança de vida ao nascer - ambos os sexos |
---|---|
1999 | 70 |
2000 | 70 |
2001 | 70 |
2002 | 71 |
2003 | 71 |
2004 | 71 |
2005 | 71 |
2006 | 72 |
2007 | 72 |
2008 | 72 |
2009 | 73 |
Além disso, especialistas consultados pelo iG Carreiras também apontam a grande falta de leitos nos hospitais como fator para o aumento da procura desses profissionais. Segundo a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), em 2010 foram registrados 463.166 leitos, uma queda de 35, 7 mil leitos em relação ao ano anterior.
Ano de referência | Número de leitos |
---|---|
2006 | 498.597 |
2007 | 503.225 |
2008 | 502.510 |
2009 | 498.956 |
2010 | 463.166 |
Segundo a FBH, o ideal é que a cada mil habitantes houvesse três leitos disponíveis. Atualmente, essa média é de 2,3 leitos para cada mil habitantes. A diferença pode parecer pequena, mas corresponde a cerca de 120 mil leitos a menos na rede hospitalar.
“A necessidade desses profissionais é uma realidade. É preciso prevenir doenças e orientar as famílias para que adaptem os ambientes para os idosos”, destaca Rita de Cássia Tapié, professora no curso de enfermagem da Universidade Anhembi Morumbi.
Regulamentação
Apesar dessa necessidade existente, a função ainda não é considerada uma profissão. “Está em processo de regulamentação na Câmara dos Deputados, mas não foi votada”, afirma Márcio Borges, geriatra e editor do Portal Cuidar de Idosos.
Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), o cuidador de idosos é conceituado como trabalhador doméstico. Assim, o que vale para a empregada doméstica vale para o cuidador.
Foto: Bruno Gerbasi / Fotomontagem iG
Profissão de cuidador de idoso ganha força no mercado de trabalho
Minas Gerais, de acordo com Jorge Roberto Souza, presidente da Associação dos Cuidadores de Idosos do Estado, é a única unidade da Federação em que já existe o registro de um sindicato para essa função, mas ainda em processo de regularização. “A maioria dos Estados não possui nenhuma representação. Já existem algumas associações que ajudam esses profissionais, mas eles mesmos precisam entender que só terão atenção do governo quando começarem a se mobilizar.”
Funções
Mas o que faz um cuidador de idosos? Segundo Rita, há três modalidades nessa área: internação domiciliar (leva os recursos do hospital para casa do paciente), assistência domiciliar (pacientes que já saíram do estado agudo, mas ainda têm uma condição vulnerável que exige cuidados) e o atendimento domiciliar (cuidados de curta duração).
Denise Melloni, coordenadora de enfermagem da empresa de home care Dal Ben, destaca que o cuidador substitui a família quando necessário. “É como um acompanhante, que auxilia na casa, dá banho e ajuda na alimentação.” Caso seja necessário procedimentos mais complexos, como internação domiciliar e medicamentos intravenosos, o profissional deve ter um nível técnico em enfermagem – é o chamado home care.
A principal função desse profissional é prevenir doenças aos idosos e trazer qualidade de vida. “O cuidador vai acompanhar o idoso em passeios, prestar atenção nas atividades cognitivas, ajudar na locomoção e lembrar os horários dos medicamentos prescritos pelo médico”, ressalta Souza.
Perfil
O cuidador de idosos, além da responsabilidade com a saúde, deve entender que há um lado emocional envolvido, tanto da parte do paciente como da família. Denise afirma que esse profissional deve ter uma habilidade social. “A parte técnica é possível aprender, mas a postura ética e de educação não se consegue mudar em ninguém.”
O profissional que deseja atuar nessa área deve ter flexibilidade e paciência para entender que, no início, as famílias ficam inseguras em relação à saúde do idoso e aos cuidados que aquela pessoa deve tomar.
Vanessa Saviolli, selecionadora da cooperativa Intersaúde, afirma que a escolha de profissionais leva em conta o perfil comportamental. “Não focamos muito na experiência. Analisamos se é uma pessoa calma e paciente, como se comporta durante a entrevista e os motivos pelos quais decidiu procurar a vaga de cuidador.”
Formação
Para quem quer iniciar a carreira nessa área, há alguns cursos técnicos e profissionalizantes, tanto em enfermagem, quanto para cuidador de idosos. Em Minas Gerais, a Universidade Fumec oferece um curso superior de formação de cuidador de idosos, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC).
Seônio Lima, gestor de enfermagem da Dal Ben, afirma que, com o aumento de vagas no setor, cresceu o número de escolas que oferecem cursos para esses profissionais. “Mas muitos professores são despreparados e, consequentemente, os profissionais que se formam são desqualificados”, opina ela. “São poucas as escolas que possuem bons cursos para cuidadores.”
“O cuidador não é uma profissão opcional, mas uma necessidade social. Falta iniciativa do poder público para qualificar esses profissionais”, afirma Souza.
Segundo o Ministério da Saúde, a qualificação desses profissionais deve ser feita pelos Estados e municípios. Como incentivo à internação domiciliar para idosos que precisam de um acompanhamento, mas não necessariamente ficar nos hospitais, o ministério disponibiliza em seu site um Guia Prático do Cuidador de Idosos.
Em 2008, o ministério anunciou que até este ano iria capacitar 21 mil cuidadores de idosos, meta do Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos, que seria oferecido em 36 escolas técnicas do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o País. Segundo os especialistas consultados pelo iG Carreiras, o programa não teve continuidade.
O Ministério da Saúde afirmou que esse programa não existe mais, e foi incorporado pelo programa Saúde da Família, uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, com a implantação de equipes em unidades básicas de saúde.
Estas equipes são responsáveis, segundo o ministério, pelo acompanhamento de um número definido de famílias, atuando com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e na manutenção da saúde da comunidade.
Salários
A faixa salarial dos cuidadores de idosos varia muito, pois os profissionais podem tanto ser contratados por cooperativas, como registrados em regime CLT. No caso dos cooperados, segundo Vanessa, o salário médio é cerca de R$ 710, já descontando o INSS.
Já para aqueles registrados em carteira, a remuneração varia também dependendo da região. Em São Paulo, é entre R$ 850 e R$ 1,5 mil. Em Minas Gerais, o valor fica entre R$ 700 a R$ 1 mil, estima Borges.