or Stefano Ambrogi
LONDRES (Reuters) - O britânico Ronald Biggs, conhecido pelo "Assalto ao Trem Pagador" no qual há 46 anos foram levados o equivalente a quase 50 milhões de dólares na Grã-Bretanha, foi libertado antecipadamente da prisão nesta sexta-feira por razões humanitárias, já que estava gravemente doente num hospital.
Biggs passou 35 anos foragido --boa parte deles no Brasil. Ele ganhou notoriedade e alguma popularidade por sua esperteza para fugir da prisão e por fazer pouco caso da lei e ainda aparecer tomando sol em praias.
Mesmo agora, sua libertação antecipada por um delito que lhe valeu um lugar na história da criminalidade e tornou seu nome popular na Grã-Bretanha divide a opinião pública do país.
Sindicatos de ferroviários, que disseram à mídia britânica que ele "não foi nenhum Robin Hood", declararam que Biggs deveria passar o resto da vida na prisão por seu papel em um assalto no qual um maquinista de trem foi ferido com gravidade.
Uma entidade que se empenha por reformas no sistema prisional elogiou a decisão, e disse que os termos da prisão de centenas de idosos também deveriam ser revistos.
Biggs, que está frágil e com pneumonia num hospital, está livre para festejar seu 80o aniversário no sábado com amigos e a família --46 anos depois do assalto.
"Os papéis (da libertação) foram assinados", disse uma porta-voz do Ministério da Justiça. Biggs deve ficar por enquanto no hospital, mas não estará mais sob vigilância.
Com outros 11 membros de sua gangue, Biggs assaltou em 1963 o trem postal que fazia a ligação entre Londres e Glasgow, na Escócia, e roubou 2,6 milhões de libras --equivalente a 30 milhões de libras nos dias de hoje (49 milhões de dólares). O crime se tornou conhecido como "O Grande Roubo de Trem" - no Brasil, como o "Assalto ao Trem Pagador".
O maquinista do trem Jack Mills foi atingido com uma barra de ferro por um membro desconhecido da gangue e nunca recobrou totalmente a consciência.
Biggs foi detido e sentenciado no ano seguinte, mas escapou da prisão 15 meses depois usando uma escada de corda que o deixou no capô de uma van que o esperava.
Passou décadas como fugitivo, indo da Austrália para o Panamá e a Venezuela, antes de se instalar no Brasil, onde sua vida de playboy e de desafio descarado às autoridades britânicas fez dele uma lenda no mundo do crime.
Ele foi localizado em 1974 por um jornal britânico, mas conseguiu evitar a extradição porque sua namorada, Raimunda de Castro --que trabalhava como stripper-- estava grávida. Ele chegou a aparecer nos anos 1970 ao lado do grupo de punk rock Sex Pistols, conhecido por suas posições antissistema, no filme "The Great Rock 'n' Roll Swindle".
Biggs retornou voluntariamente à Grã-Bretanha em 2001 e desde esse ano está preso, mas sua saúde deteriorada motivou o debate sobre se deveria ser liberado da pena de 30 anos de prisão.
O governo só aprovou sua libertação depois de ter sido informado de que é improvável que se recupere. A medida reverteu decisão tomada no mês passado, na qual as autoridades se recusaram a soltá-lo, alegando que ele não havia demonstrado remorso pelo que fez.