Tóquio, 18 ago (EFE).- A campanha eleitoral de um pleito que se anuncia como histórica começou hoje no Japão com clara vantagem da oposição, próxima de derrubar a força governamental, o Partido Liberal Democrata (PLD), que controla o poder há mais de meio século.
Yukio Hatoyama, presidente do opositor Partido Democrático (PD), pediu hoje o voto em seu primeiro comício de campanha em Osaka (centro do Japão) para "mudar o Governo nesta oportunidade de fazer história" nas eleições gerais do próximo dia 30.
Duas pesquisas mostraram hoje que Hatoyama, de 62 anos, leva vantagem de 16 a 20 pontos percentuais sobre o atual primeiro-ministro, Taro Aso, do PLD, força que governa Japão desde 1955 de forma ininterrupta, com exceção a um curto período de dez meses entre 1993 e 1994.
A possibilidade de que o Japão opte pela mudança, após uma legislatura em que teve quatro chefes de Governo do PLD, parece que encorajará os japoneses a votar já que se espera uma participação maior do que 70%, segundo uma pesquisa da cadeia NHK (em 2005 a participação foi de 67,5%).
Mais de 104 milhões de japoneses estão convocados às urnas dentro de treze dias para escolher seus 480 representantes na Câmara Baixa, a decisiva no sistema parlamentar bicameral japonês.
Desde meados de 2007 o Senado está controlado pela oposição mas é a Câmara Baixa, agora dominada com autoridade pelo PLD, que decide em caso de confronto entre ambas câmaras, além de escolher ao primeiro-ministro e aprovar o orçamento.
As últimas eleições gerais se realizaram no Japão em setembro de 2005 e foram vencidas com uma maioria arrasadora por Junichiro Koizumi que, no entanto, admitiu que seu partido tem agora "o vento contra" e enfrenta "tempos duros".
Aso, de 68 anos e que centra sua campanha em defender que o PLD é o único que pode governar um Japão em crise, carece da popularidade de Koizumi (seu apoio atual é de apenas 19%) devido em grande parte às suas numerosas gafes.
O primeiro-ministro, que sucedeu em setembro de 2008 a Yasuo Fukuda - herdeiro por sua vez de Shinzo Abe e este de Koizumi, tudo desde 2006 - é famoso no Japão por seus problemas para ler o "kanji" (ideogramas japoneses) e por soltar pérolas como que os idosos não deveriam aposentar-se porque só sabem trabalhar.
Algo que em uma população envelhecida como a japonesa (21% supera os 65 anos), tem pouca graça.
Se realmente se cumprem as previsões de uma vitória opositora no pleito, a segunda economia mundial verá algumas mudanças já que o PD segue um pensamento mais progressista que o conservador PLD.
Advoga por tirar os burocratas do Governo com um sistema de corte de gastos, por uma relação menos dependente com os Estados Unidos, dar fim à missão logística japonesa de apoio à guerra do Afeganistão e eliminar os pedágios nas estradas, entre outras premissas.
Diante do apoio ao PD nos centros urbanos e entre os mais jovens, a classe empresarial favorece a manutenção do "status quo" que propõe o PLD, no entanto muito minado pela crise que deixou o Japão em recessão durante um ano, o que afetou inclusive o tradicional domínio que o partido possui nas zonas rurais.
Enquanto, os críticos do PD e muitos analistas ressaltam que esse partido mal tem uma década de história e que suas mudanças bruscas em temas políticos sensíveis - recentemente adotou uma postura menos beligerante com Washington, possivelmente por se ver mais próximo do Governo - são sintoma da sua imaturidade e inexperiência.
Em comum, seus líderes, ambos sexagenários, são dois clássicos representantes do mundo político japonês, cinza, opaco e dominado por dinastias de sobrenome ilustre.
Embora sem nunca ter assumido um posto político de responsabilidade, Yukio Hatoyama pertenceu no passado ao PLD e é neto de um ex-primeiro-ministro, enquanto Taro Aso, ex-titular do Ministério de Assuntos Exteriores, possui parentesco com a família imperial japonesa. EFE