ACADEMIAS CRIAM PROGRAMAS ESPECIAIS PARA ATENDER MAIORES DE 60 ANOS


IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO

Sabe qual é a "nova" das academias? A melhor Idade.

Os pequenos grupos dos programas especiais para alunos com mais de 60 cresceram, e a turma de 70, 80, 90 ocupa cada vez mais espaço nas salas de musculação.

Eduardo Knapp/Folhapress
O dentista Benedito Bassit, 74, treina na barra, na academia Fórmula, em SP
O dentista Benedito Bassit, 74, treina na barra, na academia Fórmula, em SP

O novo público se encaixa numa mudança que vem ocorrendo aos poucos no conceito de academia de ginástica, segundo Waldir Soares, presidente da Fitness Brasil. A empresa organiza as maiores feiras do setor da América Latina.
"Há cinco anos, o culto ao corpo era muito forte, e academia era lugar para homem ficar forte e mulher ficar com bumbum duro. Hoje, há uma procura maior por bem-estar e qualidade de vida, que é o que o público mais velho busca."

POTENCIAL DE MERCADO

O aumento de alunos nessa faixa etária não é surpresa em um país que está envelhecendo. Mas as academias ainda não perceberam todo o potencial do mercado de alunos mais velhos.

"Além dos que estão nos seus 70, há um contingente de alunos a partir dos 50, e certamente eles não chegam como o garotão que vai puxar ferro. Eles devem ser recebidos com outro olhar. Talvez o desafio agora seja investir em avaliações físicas mais completas", diz Soares.

É possível que os cinquentões estejam correndo mais risco do que seus colegas de academia com mais idade.

Quem começa a fazer exercício depois do 60, costuma vir por recomendação médica. "As academias solicitam atestado do cardiologista liberando o paciente para a atividade", diz o ortopedista Ricardo Cury, da Santa Casa de São Paulo.

Esses alunos costumam fazer avaliações médicas regulares, independentemente de a academia pedir os exames.

Já o sujeito de 50, dependendo de seus hábitos de vida, pode ter a idade biológica muito mais avançada do que a real. Enquanto um com idade para ser seu pai exibe taxas de colesterol de fazer inveja aos saradões.

Como as do dentista Benedito Bassit, 74. "Não fico contando vantagem, mas estou com meu exame e o colesterol total deu 129", diz ao telefone à reportagem da Folha, enquanto espera a consulta com seu médico ortomolecular.

"Estou bem assim porque faço exercício. Só tomar remédio não adianta."

Benedito, que começou a treinar aos 59, faz musculação às segundas, quartas e sextas-feiras e corre na esteira às terças e quintas. Passa duas horas por dia na academia.


PROFESSOR PREPARADO


Carlos Cecconello/Folhapress
O aposentado Antônio Batista , 93, na Competition, em SP, onde ele treina cinco vezes por semana
O aposentado Antônio Batista , 93, na Competition, em SP, onde ele treina cinco vezes por semana
Ele afirma que não é preciso montar aulas ou um ambiente especial para os velhos. "Não precisa ser nada sofisticado. O mais importante é ter algumas meninas bonitas para a turma se entusiasmar. E professor preparado para monitorar."

Vilmar Villas, gerente técnico da unidade Kansas da rede de academias Cia Athletica, em São Paulo, concorda: "O fundamental é investir na capacitação dos profissionais".

Equipes multidisciplinares, que incluem fisioterapeutas, nutricionistas e profissionais de educação física, devem ser formadas para orientar e entender as necessidades de alunos com mais idade ou condições médicas específicas.

Muitas situações de saúde podem gerar restrições temporárias à prática de exercícios, e os professores devem ter preparo para identificá-las e encaminhar o aluno ao especialista.

"As mais comuns são a hipertensão e o diabetes mal controlado. É preciso acompanhamento médico e ajuste da medicação para a pessoa iniciar ou retomar o treino", diz o cardiologista José Kawazoe Lazzoli, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

Kawazoe afirma que uma boa academia deve ter uma equipe com treinamento periódico em primeiros socorros e um desfibrilador externo automático.
Eduardo Knapp/Folhapress
O instrutor Dario Mathias mede a pressão do aluno Luiz Nogueira, 65, em treino na academia Fórmula, em SP
O instrutor Dario Mathias mede a pressão do aluno Luiz Nogueira, 65, em treino na academia Fórmula, em SP

A legislação brasileira não obriga toda academia a ter esse aparelho. A obrigatoriedade, definida por leis estaduais ou municipais, está relacionado à concentração ou circulação média diária de pessoas --em geral, algo entre mil e 1.500 pessoas.

Waldir Soares, da Fitness Brasil, especula que o investimento em equipamentos de segurança e até em médicos fixos nas academia pode ser um diferencial de marketing.

"As redes ficam procurando estratégias para atrair e reter alunos, oferecendo brindes, camisetas. Mas o maior brinde é a sua vida. É preciso se preparar para mostrar a esses novos clientes [mais velhos] que eles vão ter segurança; 'venha alongar a sua vida, mas não morra'."

O segredo, para o bancário aposentado Antônio Ferreira Batista, 93, é não exagerar. "Tenho um companheiro de esteira que não passa de 2 km por hora. Eu faço 5 km. Está bom demais."

Antônio, que colocou marco-passo há cinco anos, treina cinco vezes por semana e faz cerca de 30 minutos esteira todo dia. Está ótimo.

Colaborou JEANINE LEMOS
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/910395-academias-criam-programas-especiais-para-atender-maiores-de-60.shtml