CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
O jornal não pode se contentar com esforços esporádicos no trato de temas do interesse dos mais idosos; tem de renová-los diariamente |
NINGUÉM gosta de envelhecer. Mas como a opção é pior, todos continuamos a comemorar aniversários como se cada ano a mais de vida fosse mesmo algo a ser festejado.
Um dos problemas básicos da indústria do jornalismo impresso no mundo tem sido o progressivo envelhecimento da audiência.
Phyllis McGinley, autora americana de livros infantis, popular nos anos 1940, fez um poeminha chamado "As Sete Idades do Assinante de Jornal", daquela década, em que descrevia a relação típica do leitor com seu diário ao longo da vida naqueles bons tempos.
O problema é que na tipologia de McGinley os que procuram no jornal primeiro os quadrinhos, os esportes e outros assuntos de crianças e jovens, diminuem. E crescem os que buscam antes de mais nada os obituários.
Em 1 de fevereiro, esta coluna tentou mostrar que a Folha tem feito muito menos do que deve para atrair e reter o público jovem.
No domingo, com o suplemento especial "Maioridade", ela demonstrou preocupar-se com o mais idoso. Faz bem. Tomara que prossiga.
Essa camada demográfica aumenta no país, seus problemas coletivos são relativamente novos para a sociedade brasileira, pouco explorados jornalisticamente e relevantes.
A maioria dos leitores que se manifestaram sobre o caderno o aprovou, como eu. Quase tudo foi bem feito: das artes à diagramação, dos textos às fotos, da pauta à edição, com destaque para o corpo maior do que o habitual na tipologia usada.
Havia, é claro, problemas. Edelmar Ulrich, da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos, apontou um. "Onde estão os números de idosos colocados em asilos, clínicas geriátricas ou simplesmente vivendo isolados em apartamentos, fundos de quintais? Onde entrevistaram os acamados, cadeirantes por fragilidades diversas? Onde estão os AVCs? Parkinson? Esquizofrênicos? Deficientes e demências em geral?", perguntou.
A pesquisa parece ter ignorado essa parcela considerável da população com mais de 60 anos e se concentrou nos felizes, ativos e conscientes. O jornal precisa voltar ao tema para mostrar melhor esse aspecto.
José Ricardo Oliva Hernandes reclamou de que o caderno tratou pouco e a seu ver mal da questão da aposentadoria: "[A Folha] nas entrelinhas do especial "maioridade", compara Previdência Pública com programas sociais de ocasião como Bolsa Família. Não sabe que para ter direito a aposentadoria o trabalhador paga caro, por anos a fio. A Folha não procurou saber por que os recursos previdenciários são usados ilegalmente, por exemplo, na construção de obras públicas".
O mais importante é que o jornal não pode se contentar com esforços esporádicos ainda que bem realizados, como este no trato dos temas do interesse dos seus leitores mais idosos. Precisa renová-los diariamente.
A idade média do leitor da Folha, informa a sua direção, é de 45 anos. Mas se não levar a sério a tarefa de agradar aos que tem mais de 60 e menos de 20, suas dificuldades futuras serão enormes.