Calouro luso de 75 anos busca formação para tratar de idosos

Viana do Castelo, 14 mai (Lusa) - 

O calouro mais velho do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), com 75 anos, está estudando Educação Social e Gerontológica, para ganhar bagagem para tratar de idosos.

"É evidente que não estou a tirar o curso para arranjar um emprego", revelou hoje à Agência Lusa, "com muito boa disposição", Artur Pimenta, um confesso adepto do ditado "aprender até morrer".

Pimenta tem sido, por estes dias, a "coqueluche" da Semana Acadêmica do IPVC.

"Estou a aprender, a ganhar bagagem para um dia, quem sabe, poder como voluntário contribuir para o bem-estar e para a auto-estima dos moradores dos nossos lares de idosos", acrescentou.

Sustenta que, em Portugal, os moradores dos lares da terceira idade ainda são, muitas vezes, "arrumados a um canto", por falta de formação do pessoal de quem lá trabalha.

"Falta gente que os saiba ouvir, que promova atividades que os façam sentir integrados e com interesse pela vida. E, no fundo, é tudo isso que nós aprendemos neste curso", adiantou. 

Na turma de Artur Pimenta, com 39 alunos, anda apenas um outro homem, de 22 anos.

"Tem idade para ser meu neto. O resto é tudo mulheres, todas igualmente muito jovens. Todos me tratam muito bem e até me elegeram, por unanimidade, delegado de turma. A idade, pelos vistos, continua a ser um posto", frisa.

Vivendo a sua primeira Semana Acadêmica, Artur Pimenta não perde uma das muitas iniciativas programadas.

"Já fui batizado no chafariz da Praça da República com o penico da praxe, já estive num concerto em Ponte de Lima até às quatro da manhã, já participei no cortejo e hoje, claro, não vou perder o Quim Barreiros. Vai ser mais uma noitada", garante.

Na sua infância, Artur Pimenta estudou apenas até ao 2º ano.

Começou a trabalhar aos 13 anos num escritório e depois dedicou toda a vida a duas empresas do ramo da eletrônica e instalações elétricas.

"Aos 65 anos aposentei-me e pensei: "e agora, que vou eu fazer? Vou passar os dias no café? Como moro frente a uma escola secundária, via sempre os alunos entrar e sair e aquilo mexeu comigo. Fui estudar de novo. Ano a ano, completei o 12º, depois fiz o exame de acesso à universidade, ainda experimentei a Universidade, até que em 2008 decidi pedir transferência para o IPVC", afirma.

História, Literatura e Biologia são as suas cadeiras favoritas, enquanto que as que lhe dão "mais dores de cabeça" são Psicologia e Desenvolvimento do Idoso (PDI) e Métodos e Técnicas de Investigação (MTI).

"Mas com força de vontade e com a ajuda de todos, hei-de conseguir levar a água ao meu moinho", salienta.