Só quem tem um animal por perto sabe a delícia que é receber carinho gratuito e um amor incondicional. No caso de pessoas com limitações físicas ou mentais, a medicina percebeu que essa relação pode ainda trazer benefícios e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Como? Por meio da TAA (Terapia Assistida por Animais, no original em inglês, Animal Assisted Therapy) ou zooterapia.
Estudos comprovam que a TAA é extremamente benéfica para os idosos. O trabalho do neuropsicólogo Alexandre Magno Frota Monteiro, que trabalha há quatro anos com TAA voltado exclusivamente aos idosos que sofrem de demência, é uma prova disso.
Sua trupe de seis cães - collie, pastor shetland, labrador, york, mestiça de york e um mestiço de york com chiuaua - e quatro aves - duas calopsitas, uma jandaia mineira e um papagaio da cara roxa - trabalha na tentativa de retardar os processos de demência dos moradores da clínica Vila do Sol, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro. Para o trabalho de ressocialização, ele leva a bicharada para interagir com os pacientes todos os sábados.
- O resultado é a redução da depressão, que muitos sofrem porque foram parar no asilo. O cachorro passa o amor incondicional. Estimulamos a troca de carinho. É uma hora em que o idoso se sente útil, porque muitos deles creem que não servem para mais nada.
Um exemplo do avanço que a TAA pode trazer é a recuperação, mesmo que parcial, da memória. O contato com o cão da raça collie faz os pacientes lembrarem da estrela do cinema Lassie e, consequentemente, dos cães que tiveram ao longo da vida. "Histórias não faltam", conta Monteiro. Pessoas que sofrem de demência têm a memória totalmente prejudicada.
O neuropsicólogo trabalha ainda com outros estímulos à memória dos pacientes, como a escolha do sábado para levar os animais à clínica. "Isso faz com que os idosos entendam que o dia que brincam com os animais é sempre fim de semana", diz.
Um estudo divulgado pela Delta Society diz que os animais ajudam a aumentar a concentração em determinadas tarefas. Até mesmo a deficiência motora de uma das calopsitas é usada por Monteiro para reeducar os pacientes. Monteiro compara a deficiência humana com a do animal e todos se indentificam e gostam.
Com o restante das aves, ele trabalha os movimentos delicados tão prejudicados em pessoas que sofreram acidentes vasculares cerebrais. Os pacientes podem colocar as aves nas mãos e passar os dedos delicadamente na cabeças dos bichos.
- Houve uma diminuição no comportamento agressivo deles, tanto verbal quanto físico, e uma melhora na relação entre os hóspedes e com a equipe profissional. É curioso, mas aos sábados, quando temos também visitas de familiares, é o dia em que temos menos queixas dos doentes sobre a clínica.