Queda atinge um em cada três idosos em SP, diz pesquisa




O tapete no chão, um leve desnível no piso ou simplesmente um ambiente pouco iluminado. Armadilhas fáceis de derrubar idosos que têm problemas de mobilidade e equilíbrio. De acordo com o geriatra Sérgio Pascoal, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC), uma em cada três pessoas com mais de 60 anos já sofreu uma queda no período de um ano.

Para reforçar a musculatura dos idosos e fazer com que eles percam o medo de realizar tarefas básicas, como abaixar e pegar um objeto no chão sem se machucar, o HC criou em fevereiro o Ambulatório de Prevenção do Risco de Quedas. De acordo com Pascoal, que coordena esse setor, só na cidade de São Paulo, há 1,2 milhão de idosos - a população na capital é de cerca de 11 milhões.


“Sabemos que 30% desses idosos tiveram pelo menos uma queda no período de um ano e, desse total, 40% são mulheres e 20% são homens. Depois dos 80 anos, esse índice se iguala”, conta o médico. A explicação, segundo ele, é que elas têm menos força muscular e capacidade funcional.


Na manhã desta sexta-feira (9), um grupo de senhoras e senhores fazia os exercícios na sala do Ambulatório de Prevenção do Risco de Quedas, na Zona Oeste da cidade. Com a bengala na mão e apoiada pela equipe médica, a aposentada Célia Matielo Favilla, de 76 anos, desviava de bastões. O objetivo é dar equilíbrio. “Eu tenho medo de cair, mas tomo todos os cuidados”, afirma.

A alemã Gertraud Neofytus, de 78 anos, diz que caminha a passos lentos, mas admite os tombos. “Já caí e quebrei tudo. Não tenho mais o que quebrar”, relata, rindo. A costela foi quebrada após um tombo na rua. A última peripécia dela foi quebrar o pulso ao cair, regando as plantas de casa.

“Os exercícios aqui me ajudaram muito. Deram força”, afirma ela, que revela ter começado a tomar leite apenas aos 70 anos. “É por causa da osteoporose”, diz Gertraud, que, por precaução, toma banho sentada. “É que moro sozinha”.

Proteção demais

A sorridente Therezinha Carneiro Fernandes, de 77 anos, caminha sobre os colchões apertando a barriga. “Aprendi isso na meditação. Você prende a barriga e fica com os pés no chão”. Ela conta que, em dois meses, caiu duas vezes a caminho da igreja. “Foi no mesmo lugar da calçada”. Para ela, as tarefas no HC fizeram bem ao joelho prejudicado pela artrose. “Agora estou até dormindo bem. Tomava remédio e não adiantava”.

Na reunião de duas horas desta sexta, os idosos também tinham que tocar em uma bola colocada no chão. A tarefa é outra que ajuda a dar equilíbrio e os pacientes devem fazer tudo por si só. Pascoal condena a superproteção familiar.

“O idoso não sai mais de casa, a família não deixa ele se trocar sozinho e dá o banho. Isso gera um isolamento social, a depressão e até a atrofia muscular”, afirma o geriatra

De acordo com Pascoal, o ideal é que, nas residências, o chuveiro tenha piso antiderrapante e as paredes, apoios. Os ambientes devem ser bem iluminados e os móveis não tão baixos. “Muitas quedas são por comportamento indadequado, como subir na cadeira, usar chinelo e deve-se tomar cuidado ao subir escadas.”


Parece que foi disso que a aposentada Maria Gonçalves dos Santos, de 78 anos, se esqueceu. “Já levei uns 18 tombos e quase todos dentro de casa”. O último deles foi subindo a escada da casa de uma das filhas. “Tenho labirintite. Mas eu tinha um medo de cair que só vendo. Depois que vim para cá, não caí mais.”