Evangelização da terceira idade

Estava falando de Jesus a um ancião e percebi novamente que ao evangelizar pessoas com mais idade enfrentamos condições muito específicas, raramente consideradas pela Igreja. Aquele homem me dizia que já tinha vivido tanto tempo da mesma forma que agora, mesmo que estivesse errado, não achava que adiantava mudar. É preciso entendê-lo. Pessoas com mais de sessenta anos nasceram durante um período de grande instabilidade econômica entorno da II Guerra mundial. Período tenso no Brasil, assombrado pelos fantasmas do comunismo e do facismo, dominado pela aspiração proletária de emprego estável, casa própria, segurança e estabilidade.

Enquanto os adultos enfrentavam as tensões e incertezas, as crianças nascidas naqueles anos deviam ficar em silêncio e aguardar que outros tomassem decisões por elas. Os rebeldes deviam ser aniquilados e os obedientes beneficiados. O papel de pai da nação representado pelo presidente Getúlio Vargas, cuidando dos trabalhadores e de suas famílias, vem a ser mais tarde ocupado pelas grandes empresas, onde aquelas crianças agora crescidas depositaram sua esperança de futuro. Portanto o comportamento médio de nossos anciãos, marcados por aquela época, é cauteloso, pouco afeito a mudanças, obediente, acomodado a braços fortes que lhes possam dar a segurança que aspiram. Certamente não são pessoas prontas a considerar que viveram sessenta ou setenta anos enganadas e agora tem que mudar tudo em sua vida, repentinamente.

Poucas igrejas estão preparadas para uma abordagem que atenda essa forma de ver. Aquelas que tem algum ministério com idosos seguem uma visão assistencial, dominada pela idéia de que os velhos precisam de ajuda em seus últimos anos de vida. Por outro lado as reuniões em improvisados salões alugados, os cultos mutantes, as músicas frenéticas, os eventos festivos podem agradar aos mais jovens, mas não reproduzem aquela Igreja sólida, aquele Deus protetor, grandioso, aquela certeza de certo e errado, regras claras, disciplina e até algum sacrifício que as pessoas nascidas antes de 1945 esperariam encontrar. Na medida em que a Igreja evangélica cresceu também removeu descuidadamente os marcos antigos, e sua mensagem se tornou incompreensível para os idosos. A evangelização da terceira idade sofre com o conflito de gerações.

Essa é uma questão urgente a considerar agora que o Brasil está ficando mais velho. Em 1950 tinhamos dois milhões de idosos, no ano 2000 eles já eram mais de 14 milhões. Estão nascendo menos crianças e as pessoas estão vivendo mais tempo. Nos últimos anos a população de idosos aumenta oito vezes mais do que a de jovens. Sua igreja está preparada para isso? Quando foi a última vez que vocês trouxeram um ancião a Cristo? Como vocês estão se preparando para evangelizar e pastorear essas pessoas? Se o seu coração está aberto para esse campo missionário, há duas enormes tarefas a considerar: Levar a igreja a uma postura bíblica sobre a idade, superando a visão preconceituosa, centrada na juventude; Estender a abrangência da pregação do aqui e agora para a eternidade. Entender que sua vida não está próxima do fim, mas apenas no começo, é a chave para a alma daqueles que sentem já não ter muito a ganhar ou a perder.

*Publicado anteriormente no site www.evangelizabrasil.com