Cresce participação de ‘vovós’ em crimes no Rio

A participação de idosas em crimes no Rio vem, a cada dia, se tornando mais comum. A Polícia Civil prendeu nesta semana duas senhoras – uma de 76 e outra de 71 anos – em duas ações diferentes.

O fato de elas não despertarem suspeitas contribui para esse aumento. “Você não imagina que vai ser assaltado por uma velhinha, não é?”, pergunta o delegado Roberto Nunes, da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).

Na quarta-feira (16), Nunes prendeu uma quadrilha suspeita de praticar roubos a bancos e sequestros-relâmpagos. Entre os indiciados, está Isaura Fernandes, de 76 anos, apontada pela polícia por fazer a “ponte” entre criminosos presos e soltos.
Idosa fazia a 'ponte', diz delegado

“Nós estávamos monitorando uma pessoa que pratica assaltos a banco e essa pessoa mantinha contato com uma mulher chamada Sheila, que é moradora de Realengo. Sheila mantinha contato com o filho da Dona Isaura, que é um traficante perigoso que está preso em São Paulo. Isaura e Sheila mantinham contato telenônico. Na casa de Isaura foi encontrada uma balança de precisão, cerca de R$ 500 e material de entorpecente”, conta o delegado.

Segundo ele, além de fazer a ponte entre criminosos, Isaura dava apoio logístico ao grupo. “Há suspeita que ela aceitava esconder criminosos em casa”. Isaura vai responder por tráfico de drogas, mas também é investigada em outros inquéritos policiais por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ela está presa na Polinter de Mesquita.

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Na análise do delegado, alvo dos traficantes mudou. “A participação da mulher jovem, do idoso, e de crianças no crime vem crescendo sistematicamente em razão da polícia prender cada vez mais homens e adultos. Então, acaba sobrando para os idosos, que são menos visados. Quem vai pensar que um idoso, uma mulher e até uma criança estão participando do crime?”, indaga.

Para Nunes, a reincidência no crime também deve ser levada em conta. “Aqui na delegacia, há casos de ex-presos voltarem a atuar na mesma modalidade do crime. São presos que, mais velhos, voltam a praticar o crime”.

Dois dias antes da prisão de Isaura, a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) prendeu Maria Pimentel, de 71 anos. Ela é suspeita de controlar parte da prostituição em Copacabana, na Zona Sul, e de pertencer a uma quadrilha especializada em explorar transexuais no Rio.

“Pimentel era responsável pela exploração num pequeno trecho que ia da Praça do Lido até a boate Help e cobrava R$ 30 por dia dos travestis para eles poderem se prostituir”, conta o titular Luiz Henrique Marques.
Mulher de 71 anos é temida entre travestis

Segundo o delegado, Pimentel, como é conhecida entre os travestis, é muito temida e "implantava o terror" na região.

“Os travestis morriam de medo dela. Há relatos de tortura, de que ela teria contratado traficante para torturar os travestis. E ela só poderia manter a exploração através da força. A meu ver, ela blefava muito, mas às vezes mandava aterrorizar. Se não houvesse esse mecanismo de cobrança, ninguém pagaria”, explica Marques.

O delegado conta que Pimentel ganhou "o direito" de explorar o trecho em Copacabana como forma de retribuição pelos serviços prestados anteriormente.

“Iarley, o travesti que era líder do grupo, ficou presa de 1999 e 2002. Nesse período, Pimentel fazia a exploração em Copacabana e repassava o valor para Iarley, na cadeia. Quando Iarley saiu da prisão, em consideração, cedeu esse trecho para Pimentel fazer a exploração sexual".

Iarley é Ulisses Menezes da Motta, um dos suspeitos presos na operação Babilônia II.

Segundo o delegado, a idosa de 71 anos é investigada também em outros dois inquéritos da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

“Há casos que idosos exploram sexualmente crianças e adolescentes. Esse pessoal é muito bem instruído. Eles vivem no mundo do crime há muitos anos”.

Uma pesquisa feita pela própria DCVA aponta que foi alto o percentual de crimes de abuso sexuais cometidos por idosos em 2008.

“Na faixa de 41 a 50 anos foram 18% dos casos; na de 51 a 60, o percentual foi de 10%, e acima de 61 anos, 6%. Um percentual alto se você levar em conta a idade dos abusadores”, contabiliza o delegado.


Um dos casos envolvendo idosos em crimes no Rio de Janeiro aconteceu no início de 2008. No dia 7 de janeiro, Marlene de Oliveira Cavalcanti da Silveira, de 68 anos, foi presa em flagrante, sob acusação de tráfico de drogas. Ela foi localizada por policiais da 12ª DP (Copacabana) em um apartamento conjugado, em Copacabana.

No mesmo ano, no dia 28 de março, policiais militares do 10º BPM (Barra do Piraí) prenderam uma mulher de 55 anos, em Pinheiral, no Sul Fluminense, suspeita de traficar drogas na região. Com ela foram apreendidos um tablete de cocaína, pesando aproximadamente 1 kg, e 20 munições calibre 38. De acordo com informações do batalhão, a suposta traficante é conhecida na região como “vovó do pó”.

Em maio deste ano, policiais militares prenderam uma idosa de 74 anos e o neto, de 31, suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. A polícia prendeu, ainda, um outro homem que estava na casa dos suspeitos.