Pesquisa constata que mais de 70% dos idosos tabagistas freqüentaram o médico no último ano; índice entre os não fumantes é de 31,9%
“Não existem programas específicos para essa faixa etária. As campanhas contra o tabagismo são muito gerais”, afirma a especialista Eliane de Freitas
O Ministério da Saúde adverte: fumar pode causar câncer no pulmão, impotência sexual, doenças respiratórias, entre outros problemas. Não é de hoje que os malefícios do cigarro são divulgados e comprovados. No entanto, o índice de fumantes é alto em todas as faixas etárias, inclusive entre os idosos.
´´No Brasil, aproximadamente 11% da população idosa fuma´´, afirma Eliane Regina F. S. de Freitas, que é professora da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Doutora em Ciências da Saúde e autora da pesquisa: Fatores relacionados ao hábito de fumar no idoso.
Nesta entrevista, Regina fala da dificuldade que os idosos têm de abandonar o vício e do alto custo que eles trazem à saúde pública.
Os problemas advindos do cigarro são maiores nos idosos?
O idoso já tem as doenças próprias da idade e o tabaco aumenta a comorbidade e a morbidade dele. Isso traz um custo financeiro muito alto para as instituições de saúde. O idoso fumante se torna mais doente. Enquanto 71,2% dos idosos tabagistas, nos últimos doze meses, procuraram um médico, apenas 31,9% dos não fumantes fizeram isso. E mais: 69,7% dos idosos que fumam estiveram internados no último ano contra 24% dos não fumantes. É uma diferença muito grande.
Qual o perfil do idoso fumante?
O estudo avaliou os fatores associados ao tabagismo, considerando as características socioeconômicas, a escolaridade, a saúde referida e o uso de serviços de saúde. Verificou-se que quanto mais baixa a condição socioeconômica e menor o nível de escolaridade, mais o idoso fuma. As crianças de nível socioeconômico mais baixo também começam a fumar mais cedo e 50% dos adolescentes que experimentam o cigarro se tornam fumantes.
Existe diferença entre o homem fumante e a mulher fumante?
A quantidade de homens fumantes é maior do que a de mulheres. Além disso, eles fumam mais cigarros do que elas. Enquanto as mulheres fumam menos de dez cigarros por dia os homens costumam fumar mais de vinte. No mundo cerca de 5 milhões de pessoas morrem em decorrência do tabagismo todos os anos. Quatro milhões de homens e 1 milhão de mulheres. No entanto, esse índice pode mudar. O número de mulheres jovens que fumam tem aumentado e elas serão as idosas do futuro.
Os idosos têm mais dificuldade em parar de fumar?
Sim. Quanto mais tempo a pessoa fuma maior o grau de depêndencia da nicotina. O idoso fuma a mais tempo e um número maior de cigarros. É interessante que os próprios tabagistas consideram sua saúde ruim. A partir do momento que o idoso tem consciência do mal que o cigarro traz, ele tem maior vontade de parar de fumar. No entanto, quanto mais velha a pessoa for, mais difícil é abandonar o vício. Os programas têm que ser bem focados para esse tipo de população.
Existem políticas públicas para incentivar o abandono do fumo entre os idosos?
Não existem programas específicos para essa faixa etária. As campanhas contra o tabagismo são muito gerais. Agora que estão surgindo mais estudos direcionados ao tabagismo no idoso. A preocupação com essa faixa etária está crescendo, pois a longevidade tem aumentado muito. Para aumentar a qualidade de vida do idoso e diminuir os custos com serviços de saúde, é necessário realizar um planejamento estratégico, entender os motivos pelos quais os idosos fumam, a influência do ambiente familiar, socioeconômico e cultural.
Autor: Paula Costa Bonini
Fonte: Folha de Londrina