Em uma farmácia que serve café e Coca-cola na cidade de Fredericksburg, em Virgínia, quatro senhoras grisalhas não poderiam ter opiniões mais divergentes sobre o desempenho de Barack Obama, presidente dos EUA
"Estou muito contente com ele. Acho que está fazendo o melhor que pode", diz Berverley Parks, 77, a mais liberal do grupo e a única que votou nele.
Aberta Hickman, 71, não compartilha as opiniões de sua amiga. "Acho que [Obama] está fazendo demais e cedo demais, e está fazendo as pessoas engolirem as coisas", diz ela, que se diz conservadora. "Não queremos que a reforma da saúde seja feita rápida demais. Em vez disso, ele deve sentar e ouvir o país."
Os votos dos "idosos" -aposentados como Parks e Hickman- serão cruciais nas próximas eleições, quando os democratas vão buscar reter o controle do Congresso e, com isso, a capacidade de aprovar reformas sem o apoio republicano.
Alguns analistas já estão prevendo que 2010 será o ano do "idoso branco raivoso", quando a resistência à reforma da saúde colidir com o impacto desproporcional que os eleitores mais velhos têm nas eleições ao Congresso do meio do mandato presidencial.
Muitos estão acompanhando a Virgínia, que terá eleições para governador em novembro, em busca de pistas do que está por vir. Obama foi o primeiro democrata a vencer na Virgínia desde Lyndon Johnson em 1964, mas uma recente pesquisa determinou que sua popularidade no Estado estava menos de 50%. Além disso, nos últimos 32 anos, a disputa para o governo sempre foi vencida pelo partido que perdeu a eleição presidencial anterior. Bob McDonnell, o candidato republicano, tem a dianteira sobre Creigh Deeds, democrata, com grande parte do debate centrado nos planos de reforma de saúde de Obama.
"Muitas pessoas estão buscando nesta disputa um sinal para as eleições ao Congresso", diz Bill Galston, ex-assessor de Bill Clinton que hoje está na Instituição Brookings.
"Será muito interessante ver se os jovens, as minorias, os moderados que saíram em apoio ao presidente Obama votarão novamente."
Os dados demográficos não são de bom augúrio para Obama.
Muitos de seus votos vieram de jovens que votaram pela primeira vez em novembro. Obama conquistou dois de cada três eleitores entre 18 e 29 anos.
Contudo, os jovens historicamente não são bem representados nas eleições menos excitantes ao Congresso no meio do mandato presidencial.
"Francamente, em anos não presidenciais, o eleitorado é mais velho e mais branco. Muitas pessoas que ficam intrigadas com uma campanha presidencial não ficam tão interessadas na política do Congresso", diz Galston.
O presidente sabe que está correndo o risco de perder mais de seus eleitores se o debate de saúde se estender, e os aposentados expressaram o temor de perder os benefícios fornecidos pelo governo pelo seguro Medicare para pessoas com mais de 65 anos.
Durante seu discurso ao Congresso na semana passada, Obama disse: "(A reforma da saúde) vai assegurar que vocês -idosos norte-americanos- recebam os benefícios prometidos... e podemos usar parte da poupança para preencher o vão de cobertura que força muitos idosos a pagarem milhares de dólares por ano de seus próprios bolsos em medicamentos."
"Então, não ouçam essas histórias assustadoras sobre como seus benefícios serão cortados... isso não vai acontecer sob meu comando. Vou proteger o Medicare."
Contudo, uma recente pesquisa do instituto Pew mostrou que os eleitores independentes, liderados pelos cidadãos de terceira idade, estão pendendo mais para os republicanos após defenderem os democratas no ano passado.
"Se essa reversão se mantiver, os democratas podem lamentar o ano do idoso branco raivoso nas urnas, não apenas nas prefeituras", disse Charlie Cook, comentador político veterano em recente artigo. Os mais velhos foram os críticos mais ferozes da reforma de saúde nas reuniões nas prefeituras durante o verão.
"Mesmo que Obama e os democratas sejam igualmente populares em novembro próximo quanto foram em novembro último, talvez percam cinco a 10 assentos na Câmara apenas pela composição do eleitorado", escreve Cook. "Um ganho republicano de 10 a 25 assentos parece possível."
Nas ruas de Fredericksburg, apesar de vários eleitores dizerem que estão indecisos, Diane Richards sugere que devem manter a fé em Obama.
"Votei no presidente Obama e acho que temos que dar a ele uma chance", disse ela. "Acho que está tentando fazer a coisa certa com a saúde. Ele está fazendo o melhor que pode, especialmente porque tem que combater os republicanos a cada passo do caminho."
Tradução: Deborah Weinberg