Você ainda não freqüenta uma confraria de comida
ou vinhos? Bem, não sabe o que está perdendo
Roberto Setton |
Caro para chuchu Enrico Fabetti, Eduardo e Julio Cruz (da esq. para a dir.), numa reunião da Amigos de Babette: 5 000 reais só para entrar no grupo em que mulher é barrada |
Nos últimos tempos, o assunto se tornou recorrente entre os amantes da boa mesa. Para quem gosta de comer e beber bem, participar de um grupo de degustação se tornou imprescindível. "Chega uma hora em que você quer algo mais exclusivo e especial. Aí, a alternativa é reunir os amigos, investir nos produtos e aproveitar", diz José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, 69 anos, empresário de televisão e grande conhecedor de vinhos. Ele costuma reunir amigos em seu apartamento (só a cozinha tem 100 metros quadrados) para reproduzir receitas de seu amigo e celebrado chef espanhol Ferran Adrià. "Eu até desenho os pratos para que sejam montados exatamente como são na Espanha", afirma. A onda das confrarias ganha mais adeptos a cada dia. O fenômeno é difícil de mensurar por se tratar de algo absolutamente informal. E vêm daí suas melhores características. "No fundo, é uma excelente desculpa para reunir os amigos, ter um compromisso e comer muito bem", diz o mineiro Carlos Arruda, criador do site Academia do Vinho. Entre a turma que conta mais de 50 anos a procura é ainda maior. "Para ter um verdadeiro grupo é preciso contar com tempo e dinheiro. E só nessa idade se pode alcançar isso", comenta a baiana Constança de Carvalho, 63 anos, que ano passado – na companhia de quinze confrades – visitou dezesseis vinícolas chilenas e degustou 86 vinhos em dez dias.
Quem entende do assunto afirma ser preciso encarar a confraria com seriedade profissional. Só assim dá certo. É por isso que em muitas delas há estatutos rígidos, taxas de adesão e até bola preta para quem não se encaixa nas exigências. Quem entra na confraria Amigos de Babette paga de cara 5 000 reais, fora a mensalidade de 300 reais. Há quinze anos, os dezesseis integrantes (todos homens, já que mulher não entra) se reúnem todas as terças-feiras para cozinhar. Advogados, médicos, engenheiros encaram o fogão. A cada dois anos, eles reproduzem o cardápio do filme dinamarquês que inspira o nome do grupo. É de babar: sopa de tartaruga, blinis de caviar e codornas em massa folhada com foie gras e presunto cru. Há dois anos não entra ninguém. "Testamos o candidato em três jantares. Se não for bem, não entra mesmo", explica o enófilo Ennio Federico, 62 anos.
No Rio, a Confraria do Prazer organiza jantares temáticos para animar a noite. "Quando o papa João Paulo II morreu, organizamos nosso encontro em um restaurante polonês. Na época das Olimpíadas, fomos a todos os gregos", explica a empresária gaúcha Madeleine Patrício. O grupo de quinze convivas tem logomarca própria, boné, avental e camiseta. Extravagâncias são uma constante nos grupos. As confrarias constituem uma das poucas atividades em que ostentar (e divulgar para os amigos) não causa nenhum constrangimento. "Só degustamos champanhe, o que não é barato, não nego. Em vez de gastar com remédio caro, compro genérico, e uso o dinheiro no prazer que adoramos", brinca Núbia Talarico de Camargo, 60 anos, líder da Confraria Madame Pompadour, um grupo de quinze mulheres que se reúnem a cada vinte dias. Pelas flûtes da confraria já passaram bolhinhas dos clássicos Pol Roger Brut-Magnum, Cristal e Krug. A conta das refeições do grupo bate, facilmente, 4 000 reais. É ou não é uma delícia?