Internet, Viagra e corpos enxutos. A vida
sexual da turma grisalha está cada vez melhor
Tenho certeza de que nossa vida sexual é tão animada como a dos nossos filhos", diz a arquiteta carioca Neise Zenobio, 51 anos, casada com o ator gaúcho Marcos Wainberg, 56 anos. Juntos há onze anos, eles afirmam ser tão interessados em sexo quanto na juventude. "Por que não? Sou a mesma pessoa, tenho os mesmos desejos. Claro que o vigor físico é outro, mas é a única diferença", conta ela. Se no passado a freqüência de relações sexuais de um casal minguava com o passar dos anos, hoje não se pode dizer o mesmo. Uma pesquisa do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo revelou que cerca de 95% dos homens e mulheres na faixa dos 50 anos têm vida sexual ativa. E que a maioria absoluta considera o próprio desempenho na cama muito satisfatório. "É uma mudança própria da geração que vai viver mais do que a dos pais e avós. Todas as fases da vida vão se estender, e o sexo está incluído", diz o psiquiatra paulista Moacir Costa.
A turma grisalha passou a viver intensamente a sexualidade graças a uma sociedade menos preconceituosa, aos avanços da medicina e ao empurrão da cosmética. Pode parecer bobagem, mas, quando novelas e filmes passam a exibir cenas tórridas de amor entre pessoas mais velhas, a compreensão de que se trata de um comportamento natural se consolida – como no filme Alguém Tem que Ceder, com ícones como Jack Nicholson, 68 anos, e Diane Keaton, 59 anos, se beijando sob os lençóis. A internet também contribuiu imensamente para tirar do marasmo a vida de quem é divorciado, solteiro ou viúvo. Só no site de relacionamentos ParPerfeito, o maior do país, há cerca de 130 000 inscritos com mais de 50 anos. Quem não sabia onde procurar um parceiro – mesmo que para aventuras passageiras – agora tem uma ferramenta eficiente. "Isso é a verdadeira globalização", diz o diretor de conteúdo do site, Guilherme Oliveira. Outro fator é o impressionante descompasso entre a idade cronológica e a disposição física, psicológica e emocional de quem entrou na casa dos "enta". Antes, o certo e esperado para quem se tornava avô ou avó era ficar grisalho, meio flácido, largado e conformado com a falta de sexo – o que hoje é quase impensável. "As pessoas se cuidam muito mais. Ficam jovens, atraentes e desejáveis por mais tempo. É claro que para isso é preciso ter acesso a muita informação e dinheiro sobrando", afirma o psiquiatra Ronaldo Pamplona da Costa, da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.
É fato que várias mudanças físicas ocorrem com o envelhecimento. Dificuldade de ereção, ejaculação precoce, diminuição da libido, tudo triplica com o passar dos anos. Mas a medicina contribuiu muito para resolver a questão. Com o advento do Viagra e seus concorrentes (Cialis, Levitra), os homens conseguiram estender sua vida útil na cama por muitos anos. Já elas puderam se livrar dos incômodos da menopausa graças aos benefícios da reposição hormonal. Há quem discuta os perigos oferecidos pelo tratamento, mas quem ouve falar de seus benefícios em geral decide correr o risco. A febre dos comprimidos contra impotência é inegável. Só no ano passado, os brasileiros consumiram 16 milhões deles. A engenheira carioca Branca Terra, 50 anos, divorciada há sete, dá seu testemunho: "Nem sei mais como é o sexo sem o Viagra. A maioria dos homens toma. Eles ficam agitados e vermelhos, mas o sexo é muito bom".