Divorciar-se na meia-idade é doloroso, sim.
Mas nunca foi tão fácil voltar a curtir a vida
Roberto Setton |
"Não tenho dúvida: na minha idade, só fica solteiro quem quer." Luiz Roberto, cercado pelas amigas com quem sai semanalmente para dançar |
A estatística impressiona. De acordo com dados do IBGE, nos últimos seis anos o número de divórcios entre homens e mulheres com mais de 50 anos subiu 40%. Só para se ter uma idéia, no total da população o aumento não chegou a 15%. Voltar à solteirice depois de vinte ou trinta anos de vida a dois pode parecer tarefa mais árdua que a de uma separação nos primeiros anos de casamento. Na maturidade, o patrimônio da família já está estruturado, os filhos crescidos têm vida própria, o casal se acostumou com as manias um do outro. Mas nada disso parece ser mais garantia de uniões longas. "Estou no meu auge, não podia me conformar com pouco. Buscava algo melhor e encontrei. No começo, é sempre difícil, mas não troco meu estilo de vida hoje por nada", diz o relações-públicas paulistano Luiz Roberto Rodrigues, 57 anos, separado há seis, depois de um casamento de quase três décadas. Sua vida social é invejável: sai uma vez por semana para dançar bolero e chachachá em companhia de amigas solteiras, viúvas ou separadas, freqüenta barzinhos, vai ao cinema e ao teatro semanalmente e também passou a jogar tênis. "Na minha idade, só fica solteiro quem quer. Para alguém interessante não existe mais solidão", afirma.
Especialistas são unânimes em apontar como causas do fenômeno a elevação na expectativa de vida – que hoje é 35% mais alta do que há cinqüenta anos –, a independência financeira feminina e os medicamentos contra disfunção erétil. Quando se considera que alguém aos 60 anos – se não for vítima de uma doença incurável ou de um acidente – vai viver pelo menos mais vinte (segundo pregam as estatísticas), pensar em mudar de vida ou fazer planos para o futuro é algo absolutamente natural. "A terceira idade agora começa aos 80 anos. Não é clichê que aos 50 e poucos ainda se tem tempo para tudo", explica Leila Maria Torraca de Brito, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O fato de as mulheres também terem conquistado uma posição relevante no mercado de trabalho e, por conseqüência, dinheiro para se sustentar sem a ajuda do marido também é um motivador para dar fim a relações sem sentido. Foi o caso da comerciante carioca Dea Durão, 58 anos. Em 2002, ela se separou do marido, depois de 25 anos de vida em comum. "Namorar é o melhor da vida. Nem penso em me casar novamente", diz. Bonita, arrumada e sempre assediada por homens mais jovens, a vendedora paulista Vera Lúcia Araújo, 49 anos, separada, amiga de Luiz Roberto (na foto, a segunda da esq. para a dir.), concorda: "Estou na melhor fase da minha vida. Desde 2001 tive três namoricos. Todos eram nove ou dez anos mais jovens do que eu. Tenho do que reclamar?".
No Brasil, em mais de 70% dos processos de separação não consensual, justamente a mais dolorosa, a responsabilidade é feminina. No entanto, na faixa etária acima dos 50 anos, os pedidos de separação feitos por homens superam os de mulheres. Estudiosos acreditam que os remédios contra impotência têm um tremendo peso nesse fenômeno. "O sujeito passa a se sentir um garoto aos 60 anos. Dispõe de tempo, dinheiro e vigor para começar uma nova família", comenta o psiquiatra paulista Luiz Cuschnir. E é o que, em geral, acontece. Mesmo que a turma dos solteiros convictos pareça fazer mais barulho, o fato é que boa parte dos divorciados cinqüentões volta a se casar. Pesquisa recente realizada pela revista americana AARP, dedicada ao público grisalho, que entrevistou 1 200 homens e mulheres com idade entre 40 e 79 anos, revelou que a maioria absoluta dos separados reencontra um amor em menos de oito anos. A explicação é simples: quem já viveu um relacionamento estável (e feliz, obviamente) quer sempre mais.