Em Oscar Bressane, atividades e atendimentos de saúde são acessíveis aos idosos. Parque da capital paulista oferece aparelhos especiais para quem precisar recuperar os movimentos.
O tempo passa para todo mundo. Uma viagem que ninguém sabe onde vai dar. Sérgio Barghetti, de 69 anos, e a Áurea Rosset Barghetti, de 63, embarcaram há muito tempo. Já viveram bem mais do que a maioria neste vagão. Uma vida exposta a tudo aquilo que, dizem, "faz mal": poluição, estresse, excesso de trabalho. E chegaram aos dias de hoje ainda cheios de energia. Eles têm agilidade, indispensável em uma cidade como São Paulo. "Você não deve dizer que não pode. Vai fazendo", diz ele.
Quem vê seu Sérgio nem imagina que ele teve três isquemias e um derrame que afetou os movimentos do lado esquerdo do corpo há dez anos. Depois, vieram os sintomas da Doença de Parkinson. Mas ele não se entrega.
"Ele se cuida e melhorou bastante por causa disso. É bom para ele e para mim também. Antes, ele era mais dependente. Hoje, se vira: dirige, sai, faz tudo", conta dona Áurea.
"Acho que deveríamos aprender a administrar o tempo", aconselha seu Sérgio.
Tempo para cuidar da saúde, fazer exercício físico.
"Eu percebi que quando levanto e ando fico o dia inteiro excelente. Se eu não ando, a dor começa", conta seu Sérgio.
"É impressionante como as pessoas falam que estão mais seguras, mais independentes", conta a professora de educação física Gislene Rocha.
No fim da vida, idosos ficam dependentes de outras pessoas para atividades do dia-a-dia. Os homens, em média, dois anos e meio. E as mulheres, quatro anos. E isso acontece, em parte, porque elas vivem mais.
É importante ficar atento. Para o presidente da Associação Internacional de Gerontologia, o professor Renato Maia, da Universidade de Brasília (UnB), um dos maiores especialistas em envelhecimento do mundo, começamos a depender de outras pessoas quando deixamos de acreditar na nossa capacidade. "A luz amarela tem que acender quando a pessoa começar a falar muito não: 'Não vou. Não dou conta. Não posso. Não quero'", diz.
Subir uma rampa ou descer escada são exercícios simples, mas com um resultado surpreendente. Eles contribuem para a chamada capacidade funcional, que é a habilidade que uma pessoa tem para fazer atividades comuns do dia-a-dia, mas fundamentais para a qualidade de vida.
Em uma praça do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo, os idosos são os donos do pedaço. Alguns equipamentos ajudam a recuperar os movimentos que os idosos perdem com o tempo, como barras para exercícios de equilíbrio e rolinhos para flexibilidade dos punhos. Exercícios que podem ser feitos em casa também. Mas junto com outros idosos, dona Dirce Somuli, de 69 anos, sente-se mais motivada.
"Para quem já está ficando enferrujado, é muito bom", elogia.
Seu Emerson, de 76 anos, já é especialista. Ensina a outros idosos os benefícios da escadinha dos dedos.
"Quando conseguimos coordenar, nos sentimos melhor", garante.
O importante é fortalecer os músculos e evitar as quedas. Elas são uma das cinco principais causas de morte de idosos.
"Já existem estudos na literatura mostrando que a prática de exercícios direcionados consegue reduzir em cerca de 20% o risco de queda", revela o médico idealizador do parque, Egídio Dórea.
Idosos ativos vivem melhor. Dona Terezinha Chaves diz que, com a ajuda de Deus, carrega sozinha a tábua de passar roupas. Obra do destino e da vontade dela. Dona Terezinha mora só e tem que se virar. Lavando e passando roupa para fora, ela vai tocando a vida em Belo Horizonte, aos 79 anos. "Esse trabalho ajuda muito. É o meu pão de cada dia. Só a pensão não dá. O que vale um salário-mínimo?", questiona.
Mas você acha que ela reclama da vida? Que nada. E assim vamos descobrindo a sabedoria de dona Terezinha. Sabedoria que – desconfiamos – a ajudou a chegar desse jeito aos quase 80 anos. "É preciso ter paciência com a vida e aceitar o que Deus nos dá. Fazer o quê?", diz.
Dona Terezinha também acredita que os homens se cuidam menos. "Dia desses eu fui ao cemitério porque uma amiga tinha morrido. Gosto de visitar todos os velórios. Então, verifiquei que há poucos homens e eles estão morrendo. Nos bailes, vemos mais mulheres do que homens tomando chá de cadeira", conta.
Em Oscar Bressane, no interior de São Paulo, é bem como dona Terezinha diz. A cidade é capital da longevidade no estado de São Paulo. Revelação de uma pesquisa da Fundação Seade.
"Dizem que cidade pequena não tem nada para o idoso fazer. Mas é só procurar que tem", assegura dona Jandira Savian Gomes, de 56 anos, que, junto com o marido, seu Manoel Gomes, de 69 anos, resolveu provar o que ela disse. Às 7h30m, eles começaram a mostrar tudo o que dá para fazer na cidade em um único dia.
Em Oscar Bressane, tudo é feito a pé. Caminhada é exercício corriqueiro. Todo mundo se encontra na rua. Na academia, alongamento. Ginástica que ajuda no controle da hipertensão. Na hora do almoço, verduras da horta e comida preparada no fogão à lenha, sem correria.
"Sossego é gostoso", ressalta seu Manoel.
À tarde, tem jogo de cartas para os homens e trabalhos manuais para as mulheres no Centro de Convivência do Idoso. Hidroginástica, jogo de vôlei. E, no início da noite, musculação em uma praça ao ar livre. Atividade física com ar puro, praticamente no meio de uma fazenda, no cair da noite. E lá estava seu Manoel, que acordou de madrugada, ainda firme e forte.
Nas cidades com bons índices de longevidade é assim: atividades e atendimentos de saúde são acessíveis aos idosos.
"É uma população pequena, de certa forma envelhecida. Os serviços públicos na cidade se tornam suficientes para atender aquela população", avalia a estatística Maria Paula Ferreira, da Fundação Saade.
E não é uma questão só de dinheiro. Oscar Bressane, campeã da longevidade no estado de São Paulo, ocupa a posição 579 em riqueza. A capital, que é a 14ª em riqueza, fica lá bem atrás em longevidade, na posição 204.
É assim também na vida de cada um. Quem entende do assunto diz que depois de um mínimo para viver o dinheiro já não é tão importante para envelhecer bem.
"Daí para a frente, o que importa é a sua posição na sociedade, o seu bem-estar social, a sua capacidade de interagir na sociedade e de usufruir a sua autonomia", diz o geriatra Renato Maia.
O que esperamos do futuro para nós e para os nossos filhos? Se existe receita para viver muito – e bem –, ela não é exclusividade de Oscar Bressane. Seja em uma cidade pequena, onde o tempo parece passar bem devagar, ou na rotina acelerada de uma metrópole como São Paulo, caminhamos em direção à longevidade. O número de idosos vem aumentando em todo o país. A experiência de quem já chegou lá pode indicar caminhos também a quem atravessa outras fases da vida.
A pesquisadora Mirela Camargos se surpreendeu quando foi a campo procurar idosos que vivem sós. Fisioterapeuta e demógrafa da Fundação João Pinheiro, ela esperava encontrar tristeza e solidão, mas não foi o que viu. Por incrível que pareça, os que moram sozinhos têm alguma vantagem sobre muitos que moram com as famílias.
"Observamos que às vezes, quando o idoso vai morar com a família, por zelo, as pessoas falam assim: 'Não precisa fazer isso'. Elas não querem que o idoso participe, que ele ajude a lavar uma vasilha, a cuidar da casa, a varrer", diz a demógrafa.
Para dona Diva Mayrink, de 73 anos, fazer as coisas ela mesma mais do que ajudar a manter a saúde, mantém a dignidade. "É triste pedir para fazer alguma coisa", conta.
Mas Mirela alerta para alguns cuidados. É bom guardar as coisas de uso diário ao alcance das mãos. À noite, lembrar de iluminar bem a casa e tirar objetos soltos do caminho até o banheiro.
Foi Mirela quem apresentou dona Terezinha ao Globo Repórter. "Eu acho o segredo de viver bastante e bem é não ficar muito preocupado com as coisas", revela.
Dona Terezinha e a amiga, dona Efigênia, aproveitam o direito de andar de graça e levam quase uma hora de viagem atravessando a cidade de ônibus. Enfim, elas chegam ao baile. Aos 79 anos, dona Terezinha não desce do salto.