Categoria: Internet "A Musica e a Velhice"

Tony Belloto é guitarrista da banda Titãs e colunista da veja.com na coluna Cenas Urbanas.



Leio um artigo de Sérgio Augusto, no Estado de S.Paulo, sobre descobertas e estudos científicos que usam a música com fins terapêuticos. Esse samba não é novo, mas me surpreendeu. Trabalho com música há quase 30 anos e só agora descubro que ela é um santo remédio! Espero que o futuro confirme as suposições do artigo. Sempre imagino que terminarei a vida surdo e alquebrado pelo rock'n roll.

Quem sabe a música, ao contrário, não me dará uma velhice saudável? Essa balada começou na década de 1960, quando o médico Oliver Sachs começou a pesquisar o efeito da música em pacientes com doença de Parkinson. Depois, já na década de 1970, MacDonald Critchley e R.A. Henson publicaram um estudo sobre as relações da música com o cérebro.

Mas só agora,com as pesquisas da doutora Vera Brandes, da Universidade Médica Paracelsus de Salzburgo, a musicoterapia ganhou um outro status. Vera Brandes é uma ex-produtora de shows que descobriu - paradoxalmente - o poder medicinal da música quando se recuperava de um acidente de carro. Ela dividia o quarto do hospital com um budista.

Os visitantes do budista sempre cantavam e dançavam no quarto. Vera, cujo prognóstico de recuperação era de meses, sarou em algumas semanas. Desde então ela vem pesquisando formas - ou fórmulas - de misturar timbres e ritmos sonoros, melodias e harmonias instrumentais em "compostos medicinais". Para tanto, criou a empresa Sonoson, especializada em montar sistemas musicais personalizados para clínicas. Você deve estar se perguntando: como assim? É isso mesmo.

O paciente,depois de diagnosticado pelo médico, recebe uma espécie de iPod com músicas testadas em laboratório, mais um fone de ouvido e um medidor de pulso e outros índices fisiológicos. Vera Brandes avisa que seu método é inútil para patologias complicadas e doenças infecciosas, mas muito eficaz no combate ao que ela chama de "doenças da civilização": ansiedade, depressão, stress, insônia etc.

Para provar que talvez a doutora Brandes esteja no caminho certo, aqui vão dois exemplos citados no artigo de Sérgio Augusto, ambos tirados do livro Alucinações Musicais - Relatos Sobre a Música e o Cérebro, de Oliver Sachs:1. Tony Cicoria é um ortopedista que foi atingido por um raio. Ele saiu do choque com uma vontade louca de ouvir piano, especialmente Chopin. Depois de alguns meses transformou-se num pianista.2. O próprio Oliver Sachs,autor do livro, recuperou um joelho avariado ouvindo repetidas vezes o Concerto Para Violino, de Mendelsohn.É. No show de hoje à noite vou aumentar um pouco o volume da guitarra. Só por precaução.